sexta-feira, 29 de junho de 2007

Os mixordeiros e o direito a uma imagem límpida

Em boa verdade nunca vi nenhum Limiano que quisesse roubar a Viana do Castelo aquele título que esta se atribui de Princesa do Lima. Os Vianenses gostam, até lhe fica bem e a nós não nos faz mal. É um nome feminino, delicado e as nossas mais agrestes terras do interior terão outros atributos igualmente louváveis.
Quando vi um placard na Rotunda de S. Gonçalo a reclamar aquela designação fiquei chocado, quem teria o atrevimento de vir agora apropriar-se de coisa alheia. Não teremos nós a criatividade para não andar a copiar os outros? Sosseguei porém quando vi que havia uma fotografia de um copo de cerveja com referência a uma determinada marca. É esta cerveja a pretensa Princesa.
Os criativos da publicidade têm por vezes destes ideias mirabolantes. Querem associar o seu banal produto a um outro de qualidade e fazem-no sem olhar a que os outros também têm direito à imagem e a que ela não seja associada a qualquer coisa de baixo valor. A publicidade agressiva não pode chegar a tanto.
Ainda por cima a ousadia desta marca cervejeira que faz as suas mistelas com água do Paiva ou do Douro e sem pitada cá da nossa, vai ao ponto de vir cá fazer concorrência ao nosso saboroso néctar de uva, esse merecedor de todos os títulos deste género e de referências em todas as pantalhas e esquinas.
Já nos não chegava a saga do queijo Limiano que, tendo aqui o seu berço, é agora um filho pródigo que nos foi retirado de modo menos correcto. Valha-nos perpetuar o nosso nome e espalhá-lo por esse mundo além. Como muitos emigrantes teve o seu parto em Ponte de Lima mas não lhe pudemos dar o preciso alimento.
Essa água choldra não tem Pátria, faz-se desde que haja ingredientes e um rio perto, mas se se quer ligar a algum lugar que seja ao da sua origem. A Galdéria não venha cá chamar pai ao Lima, vá chamar pai a outro, sua Princesa do Douro (ou do Paiva).

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Como implementar uma economia ecológica

A nossa preocupação ecológica já vem de há muito, mas só nas últimas décadas assumiu carácter mais sério com a avaliação e o rigor científico que se colocou na sua análise. Falava-se em poluições, mas só as alterações climáticas fizeram suar o sinal de alarme. O ambiente está enfim no domínio das decisões políticas.
Por mais passos que se dêem, e agora o G8 deu um pequeno passo, não podemos dormir descansados. O problema tem de ser visto na sua verdadeira dimensão, com a extrema gravidade que deriva de estar em causa o futuro da humanidade.
Nós indignamo-nos com a leviandade com que se continua a tratar estas questões, com a indiferença que a maioria de nós manifesta em relação a elas. Vai-se pretendendo sensibilizar as crianças, mas são tantos os maus exemplos à sua volta que é de duvidar da sua eficácia, se não envolver os mais velhos.
Toda a sociedade está envolvido num consumismo glutão que contorna a realidade e cria a ilusão de que os cientistas resolverão todos os problemas e os políticos actuarão na hora exacta em que já mais nada houver para fazer.
A força determinante na sociedade é a economia. Ainda por cima é uma força anestesiadora que actua selectivamente sobre o nosso cérebro. E está hoje interessada em que se queime todo o petróleo que existe, que depois se acabe com o gás natural, que se produza cada vez mais e se polua cada vez pior.
Nós próprios, poderosas forças económicas do lado dos gastadores de bens e produtos directa ou indirectamente poluidores, contribuímos sobremaneira, com a irracionalidade do nosso comportamento, para o agravar da situação. Temos de deixar de acreditar na força depuradora da natureza.Consumimos carne de vacas altamente poluidoras, gastamos gasolina, plásticos, óleos, metais, acima de tudo destruímos energia não renovável ou obtida por processos poluentes e cujo consumo mais poluição provoca. Não invocamos o fundamentalismo mas perguntamos: Onde andará o bom senso?

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O que nos falta daquilo que os Galegos têm?

O aumento significativo do PIB Galego nos últimos tempos dá azo a muitas e variadas interpretações, a favor desta ou daquela causa. Terá este facto a ver com a regionalização operada em Espanha, com a dinâmica nacional, com a estrutura activa, com a preparação do activo laboral, com o dinamismo empresarial, com a capacidade para atrair investimentos, com as condições naturais?
Normalmente a análise mais fácil é feita em termos comparativos e mediante conclusões rápidas do tipo: O nosso atraso deve-se ao que cá nos falta daqueles factores e que eles têm em quantidade adequada.
O certo é que a economia, se fosse assim tão simplista, qualquer merceeiro podia ser Ministro da dita pasta. Mas podemos dar de barato que todos aqueles factores têm a sua importância relativa e só a sua conjugação permite obter bons resultados.
Se as coisas não estão pior do lado de cá da fronteira, do Minho ao Douro, de Ponte de lima a Marco de Canaveses, é porque muito trabalhador de cá só lá encontra onde labutar e trás para cá algum daquele PIB lá gerado, mas, e ainda bem, nem todo lá distribuído.
É um pequeno quinhão mas já permite que se diga que em Ponte de Lima não há desemprego, porque os nossos têm de trabalhar e morrer na Galiza. E permite que se diga que o aumento daquele PIB não é assim tão linear, mas afinal também corresponde a um aumento da massa laboral.
De qualquer modo, se o produto do trabalho dos nossos deslocados fosse realizado do lado de cá, maior bolo cá ficaria e menos dependentes seríamos daqueles que para seu proveito nos vão fornecendo esse trabalho, porque são os donos dos meios.
Afinal o que nos falta para termos a atractividade da Galiza, principalmente se pensarmos que a Galiza partiu de um patamar semelhante ao nosso e foi durante séculos vítima dos mesmos atavismos que sempre nos trouxeram agarrados ao passado?

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Aquilo que ninguém lê mas fortalece a nossa identidade

Nunca foi de pensar que nos velhos reside toda a sabedoria. Pelo menos com esta generalização. Um mito que se criou é que os velhos teriam sempre algo a dizer na hora da morte. Se este mito foi criado com a ideia de que se respeitassem os velhos até à dita cuja, reconheço que a intenção até foi boa.
Porém, para provar isto, só conheço aquela história do J. M. Fonseca, grande empresário dos vinhos em Setúbal. Tendo já ensinado tudo o que havia para ensinar na arte de fazer vinho, resolveu à hora da maldita revelar o seu maior segredo, aquilo que os filhos não tinham precisado de saber até aí: Meus filhos têm de saber um grande segredo, há um vinho que se faz com uvas!
De resto os velhos sempre vão transmitindo a sua sabedoria ao longo da vida. De tal modo que os novos, não contando com qualquer herança extra na hora fatídica, colocam os pais onde eles menos incomodam, à espera da estaferma. Os novos não pensam que também seria melhor prepararem-se para virem a ser eles os velhos que no futuro os filhos tratarão da mesma maneira!
Está provado que não se pode ser velho, que os velhos são vistos como uns inoportunos e enfadonhos, pelo menos quando têm os bolsos vazios. Um velho é muito pouco respeitado e cada vez mais pobre. Além disso facilmente sisma: onde terá ele errado?
Resta ao velho assegurar o seu lugar dando à luz a história da sua vida, das vicissitudes por que passou. E o melhor é passá-la a escrito com o fito de a estruturar. Não servem choradinhos, traições, mentiras de que se achar vítima, mas os medos e inquietações por que terá passado.
Não tenham receio de que os filhos não venham a gostar, porque eles precisam de compreender, para se tornarem guardiães da herança familiar. Não falta quem, achando-se bem sucedido, dos vindouros faça vencidos, por isso não veneráveis. Veneram mais depressa um qualquer Chico Esperto.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O estranho silêncio sobre o T.G.V.

O tema não tem sido abordado, não se têm manifestado preocupações, muito menos oposições ou apoios à passagem do TGV por terras limianas, o que já é entendido como certo por espanhóis e portugueses.
Podíamos ir mais longe e questionar a validade do projecto em si e andaríamos aí indefinidamente à volta da sua falência económica e da sua necessidade política.
Mas aqui manda quem pode e parece que estamos mais dependentes da vontade europeia e galega do que da nossa própria. São assuntos que, dizendo-nos respeito, nos ultrapassam.
Fiquemos pois tão só pelas implicações locais, porque nós só temos que ceder a passagem e desejar boa viagem. Por exemplo é garantido que paragem do TGV aqui não vai ter.
Mesmo não sendo um daqueles super rápidos, mesmo sendo a sua velocidade limitada, a sua eficácia exige poucos apeadeiros. O resto do trajecto que seja feito pelas normais estradas de Portugal.
Portanto entre o Porto e Vigo parará em Braga e já é bem bom, dizem. Nós cá vamos suportar todos os inconvenientes. E benefícios? Nenhum. Mas eles dirão que não têm culpa de estarmos aqui. E já não há coutadas, pelo menos quando isso lhes interessa.
São conhecidas as dificuldades provocadas pela deslocação do ar, o corte em dois do espaço circundante. Esta barreira torna-se intransponível para muitas espécies animais, mesmo para o homem. Esta barreira vai condicionar muito o futuro.
Só a irregularidade do solo, obrigando à construção de muitos viadutos e túneis, permite alguma circulação, nem tudo é mau. Mas se esta linha vai contribuir para o progresso, deveria haver muita gente a reclamá-la para si. Não é estranho?