sexta-feira, 21 de março de 2008

A nossa cabeça está cheia de lixo

“A nossa cabeça está cheia de lixo” o que sendo uma verdade insofismável já chegou ao domínio da canção. Não há dúvida que é uma forma pedagógica de transmitir uma ideia. Mas como todas as fórmulas simplificadoras corre o risco de se perder e não ter muitos efeitos práticos.
O lixo não é só constituído por aquelas séries que alguém memoriza para se dar ares de alguma sabedoria em algum domínio. Há quem recorde com precisão matrículas de carros, resultados e jogadores de futebol, filmes, canções. E ainda há séries mais extravagantes, sem préstimo que se veja.
No geral são dados sistematizados cuja classificação como lixo pode ser um pouco abusiva. Sendo o lixo aquilo que nós podemos deitar fora sem que isso constitua qualquer perca significativa para nós, não há dúvida que há outros dados dispersos de que nos poderíamos ver livres sem prejuízo.
Normalmente nós gostamos de recordar muita coisa, mas com a experiência começamos a ser mais selectivos. Mas se ainda vamos a tempo de colocar um filtro à memorização de pormenores sem interesse é porém mais complexo livrarmo-nos daquilo que na inocência de outros anos guardamos inutilmente.
Esta possibilidade de escolha daquilo que é lixo faz-nos também pensar em como seria benéfico deitarmos fora da nossa memória as coisas desagradáveis que vivemos, os momentos de humilhação, ou até de desvario da nossa parte.
Não será tão fácil, até porque as repercussões desses períodos mais negros já se terão repercutido na nossa emotividade. E alterar este estado de coisas só com uma diferente compreensão dos acontecimentos, com um melhor conhecimento de nós mesmos, caso contrário ficará um hiato insuportável. São experiências com que aprendemos a viver.