sexta-feira, 25 de maio de 2007

O falso padrão televisivo

A maior ilusão que nos foi criada é a televisão. Persegue-nos por todos os lados, sem que nós nos apercebamos disso, antes pelo contrário, nós temos a ilusão que passeamos pelo mundo.
A verdade é que isto talvez não fosse grave, não fora nos ausentarmos inadvertidamente do sítio em que nos encontramos. É tão grande a quantidade de outras aparências que ela nos cria que já dificilmente nos imaginamos como sendo só do nosso lugar.
Uma delas é a estarmos próximo de tudo, de repente parece ser tudo familiar, já nada estranhamos, tudo nos aparece pela casa dentro já devidamente tratado, editado como dizem, pronto a ser assimilado pela nossa inteligência televisiva.
É-nos criada a ilusão de que já sabemos de tudo, estamos aptos a discutir as questões mais complexas, seja qual for a sua natureza. Seria bom se a televisão nos despertasse para procurar saber mais através de outras vias, mas falta-nos tempo para isso.
Na realidade estamos cada vez mais afastados do que verdadeiramente interessa, com a atenção demasiado dispersa, sem benefício que se veja em termos de compreensão do mundo, de solidariedade para com os povos mais infelizes.
Descuramos os contactos com os que fisicamente nos estão próximos, os diálogos directos, que não sejam sem a intermediação dessa presença obsessiva dos projectores que só captam os contornos da realidade que se salientam pelos aspectos mais marcantes e excessivos, seja pela positiva ou negativa.
Temos que ser mais selectivos, escolher melhor os motivos de interesse que nos devem despertar mais a atenção, ler mais jornais e livros, utilizar a Internet com moderação, mas acima de tudo conversar mais, dialogar, procurar compreender os outros e criar os laços saudáveis que a televisão nos não ensina a tecer.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

A profunda crise da vitivinicultura limiana

A estrutura do território limiano assentou durante séculos essencialmente em quintas. Eram unidades auto suficientes que englobavam os melhores terrenos, os melhores bosques, as melhores nascentes, mesmo que fora do seu domínio e que ocupavam na sua maioria de quatro a doze hectares e excepcionalmente chegavam aos cinquenta.
Uma boa quinta dava para várias produções, para o regadio e para o sequeiro, para alimentar os animais de Verão e Inverno. Salvaguardados os aspectos sociais, esta visão tornou-se para o nosso espírito quase idílica.
A vinha contínua alastrou-se por tudo que é sítio e destruiu este equilíbrio assente na cultura promíscua. Hoje, com a crise no mercado do vinho verde muitas quintas ficaram ao abandono.
Este é o ano alfa de todas as catástrofes agrícolas. Muitos agricultores não aguentaram viver com créditos de dois anos por solver. Ao terceiro ano a corda rebentou.
Quem der uma volta pelo concelho vai ver um espectáculo degradante. Já não são só latadas, mas também os bardos que foram cortados ou ficaram sem poda a dar uvas para os pássaros. À espera de um subsídio para o seu corte pela raiz, talvez.
Mas também quintais de menor dimensão vão sofrendo o mesmo destino cruel. Com os donos a terem que trabalhar cada vez mais longe quem os há-de cultivar?A insistência em que a transferência da Adega Cooperativa resolveria o problema do nosso vinho verde parece irrealista.
Foram tantos os erros cometidos pelas gestões anteriores, é tão fácil cair, que, para subir, só com apostas mais especializadas, estruturas mais leves, vinhos de quintas com vinificação centralizada e aposta na reconquista dos mercados tradicionais.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Continuará a haver Cavalos de Tróia?

Em Ponte de Lima quando se faz algo bem feito não se deixa cair o mérito na rua, toda a gente é ciosa de o guardar. Mas já, quanto ao que está mal, todos lavam as mãos, é invariavelmente obra dos outros, invariavelmente dos que não fazem nada.
Não sei como isto é possível mas já admito tudo. Há quem pretenda que o que existe há séculos foi construído ou desenterrado há poucos anos. Também ninguém quer falar do nosso verdadeiro passado como que haja vergonha dele.
Se a recuperação do Centro Histórico de Ponte de Lima jaz parada, a culpa é de alguém. Tarda a recuperação dos prédios mais avantajados e em estado de degradação avançada. Questões burocrático/legais? Dificuldades económicas?
Mesmo correndo o risco de ficar sem o meu lugar no Largo de Camões (o Zarolho da Paula) é imperioso que se faça algo. Os proprietários, os que herdaram ou comprarem com intuitos honestos deveriam ter facilidades e apoios. Dos especuladores não tenho eu pena, mas aqui o resultado é que deveria importar mais.
Para todos os efeitos interessava que fosse criado alojamento na zona histórica. De certo que escritórios também, eram precisos embora não haja empresas e mesmo estas os instalam cada vez mais junto aos locais de produção. E comércio especializado que o grossista não cabe aqui, deixá-lo para as rotundas.
Ponte de Lima tornou-se um concelho marginal desde que deixou de ter significado o intercâmbio com a Galiza. É necessário retomá-lo, integrando-nos no movimento de ligação transfronteiriça, mas não veja iniciativas, a não ser mandar para lá trabalhadores.
Manietado pela dinastia de Avis que conseguiu introduzir dentro das suas muralhas um cavalo de Tróia, Leonel de Lima. Irrelevante no próprio Minho, Ponte de Lima podia ter sido um concelho estandarte, tornou-se um concelho submisso. Por mais que alguns se queiram pôr em bicos de pé.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Um emblema turístico para Ponte de Lima ou para o Minho?

Está em curso uma campanha de promoção turística do Algarve que assenta na palavra “Allgarve”. Com ela se pretende significar que o Algarve tem tudo o que é necessário em termos turísticos para os mais diversa clientela de diferentes idade, preferências e carteiras.
A promoção turística tem de assentar em termos simples, de preferência um só termo, uma marca, que diga tudo às pessoas. Neste caso pela própria natureza da palavra, uma sobreposição do “All” em inglês significando tudo, à nossa Algarve.
A Câmara de Ponte de Lima quer lançar uma marca “Ponte de Lima”, cujos méritos têm que ser analisados colocando-nos na posição daqueles que procuram um destino turístico sem possuir grandes referências, mas o querem para uma estadia mínima.
Ponte de Lima esteve ligado ao nascimento do turismo de habitação e derivados, mas com a expansão deste perderam-se muitas referências, além de que se destina a uma clientela muito específica e limitada por natureza.
Por mais que procuremos esticar o nosso património, edificado e natural, por mais valioso que ele seja, não é suficiente para justificar uma estadia prolongada e o turista só se engana uma vez.
Os eventos, Vaca, Feiras Novas, são de referência mas por natureza temporais. O sarrabulho, nas actuais circunstâncias, não é sequer um emblema de que nos devemos orgulhar.
O turismo de Ponte de Lima tem de estar englobado numa mais vasta estratégia promotora do Minho com as suas particularidades, tonalidades, paisagem, sabores, património, passado. Afinal daqui nasceu Portugal: Minho, o coração de Portugal.