quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Parque de campismo ou mais um jardim

A Câmara Municipal de Ponte de Lima prepara-se para comprar mais uma quinta de quatro hectares em Arcoselo, a Quinta de Antepaço (de baixo). Não para reforçar a ruralidade, característica que se foi, que não é em dois dias que se passa de uma agricultura intensiva, que cá sempre se praticou, à agricultura extensiva ou silvicultura, únicas viáveis na maioria dos nossos espaços rurais.
Sem este aproveitamento das nossas terras, impossível sem uma alteração radical da propriedade, que não a municipalização das terras, esta compra é para compensar a falta de zonas verdes que os construtores deveriam criar nas zonas habitadas.
A política de incentivar que se visite esta Vila Velha, que é esporádica e fugaz, não traz qualquer benefício aos residentes. Nem o vejo com a criação do parque de campismo que se prevê. É uma actividade mais apropriada para a iniciativa privada, embora se aceite a ser assumpção pelo Município, na falta daquela.
Será para inaugurar lá para o ano 2009, mais próximo das eleições. Nos próximos dois anos não nos vamos livrar da bagunça que, quando se aproxima o fim-de-semana, se instala mesmo em frente da Vila, por S. João, pela beira-rio, abaixo e acima.Os carros de campismo aproximam-se quanto podem do rio, para que logo pela manhã os respectivos donos lavem a cara, e decerto tudo o mais que acharem por bem, nas águas, outrora, cristalinas do Rio Lima. É fácil ver que terão € para mais higiene.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

A importância da condução não passa por uma simples carta

Não há dúvida alguma: a estrada é a grande obra do homem, identificadora da sua natureza. Ela permite-lhe uma mobilidade que nunca antes tivera. Antigamente aquilo que o identificava era as pernas, o andar de modo erecto sobre elas. Hoje é o andar sobre rodas, de carro claro, com uns cavalos à empurra.
O andar de avião, de barco, de escafandro é só para alguns e só em determinados momentos, descontraidamente. A estrada é para todos e, se necessário, a toda a hora. O carro dá a todo o vivente aquela sensação de domínio sobre o universo, sobre o tempo e o espaço, como nada mais dá.
Na estrada o homem sente-se poderoso, o centro do mundo, de um mundo que é criado por ele, para o qual ele define as regras de utilização e que lhe dá o domínio sobre tudo que resta. Na estrada faz-se aquilo que seria impensável fazer numa outra qualquer relação do homem com o seu semelhante, aqui ignorado.
Na estrada esquecemo-nos que estamos a utilizar um bem precioso em partilha com outros homens que deveriam ser respeitados nos seus direitos, como em qualquer lugar. A agressividade do homem é na estrada que mais se manifesta, o desprezo pela vida dos outros, que ninguém pensa perder a sua.
As coisas têm melhorado, dizem. Mas entendo que a carta de condução deveria ser obtida após uma aprendizagem cívica e com uma cerimónia iniciática a que se daria a importância de um casamento (Esqueçam, é melhor arranjar outra comparação).

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Que factores competitivos passam pelos cérebros mealheiros

O desemprego é um fenómeno económico e social a que não estávamos habituados. Nós que neste mundo da indústria só entramos há uns poucos anos, já lhe estamos a saber os efeitos.
Do desemprego em massa, daquele que manda de uma só assentada umas dezenas ou centenas de pessoas para casa. Desemprego de um emprego que já não volta mais, que vai para longe, para o estrangeiro mais longínquo. Daquele que cá não deixa ficar nada do género a não ser umas paredes nuas. Emprego parecido para absorver os desempregados em tempo útil é vê-lo!
Valha-nos que com o fecho de uma fábrica de calçado na Gemieira se diz que uma outra fábrica de acessórios de automóvel, de algum modo parente, ainda que afastada, é capaz de absorver algum daquele desemprego. Veremos!
Também esta é uma indústria com os seus problemas, com as suas limitações, mas alguma coisa há-de ficar, e de preferência cá. Afastemos o mau agoiro, dirão os mais sugestionáveis.
Que nisto não há milagres. Não havendo encomendas, não há trabalho. São multinacionais que se estão marimbando para a paisagem, para a bonomia das pessoas, para a boa gastronomia.
Avancemos com outros factores competitivos que estes nunca passarão pelo cérebro-mealheiro dos empresários mais humanistas. Precisam-se de vantagens (terrenos, acessos, equipamentos sociais, isenções) traduzíveis no vil metal.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Com a floresta tem-se perdido dinheiro e harmonia

Em meados do século passado os então Serviços Florestais promoveram a florestação de todos os montes circundantes de Ponte de Lima, essencialmente com pinheiros. Pouco sobrou.
Mais tarde, com a celulose, veio o eucalipto que ocupou tudo o que pode e que contribuiu para acentuar ainda mais a tonalidade deste verde carregado na paisagem limiana.
Com a falta de cambiantes os Invernos tornaram-se sombrios, os Outonos quase irreconhecíveis e as Primaveras desfloridas. Quem cá vive continuamente satura-se de, na aparência, não existir renovação. A não ser que lhe seja indiferente.
A nossa paisagem não era assim e, por força dos incêndios, também já não é assim tanto. Regressaram à nossa vista, infelizmente por esta via, os penhascos, os cinzentos das partes ardidas, alguns castanhos e distintas cores da vegetação rasteira.
O investimento feito no século passado redundou em nada. Os guardas florestais acabaram e as suas casas estão ao abandono. Os pinheirais arderam e os lucros voaram. Onde está o dinheiro para a reflorestação? E em muitos locais será mesmo de fazer?
Numa sociedade mercantilizada as más opções pagam-se caras. A harmonia perdida não tinha preço e já ninguém no la pode restituir. Resta-nos olhar para a paisagem tão pobre como ela está.
Fiquemos à espera que, ao menos, não a deixem dominar pelos infestantes, as austrálias, as mimosas, os giesteiros, os resistentes eucaliptos e reintroduzam algumas folhosas para dar algum colorido e proteger a floresta dos incêndios.E para que sobre algum espaço de pasto para as ovelhas do Senhor Vereador da Câmara Municipal de Ponte de Lima.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

A pobreza e a indigência

A pobreza é um drama, um suplício. Sair da pobreza não é fácil, mas alguns lá vão saindo, com ou sem a ajuda de outros. Claro que um empurrão muitas vezes facilita e mostra-se necessário.
O Comité Nobel reconheceu este efeito ao laurear com o seu Prémio de Economia um banqueiro que, com o micro crédito, tem incentivado as pessoas a ultrapassar este patamar indesejável.
O problema está quando, ao contrário, se passa da pobreza à indigência e se renuncia a qualquer propósito de melhoria da nossa condição humana, isto é, se perde a noção de vergonha.
Em Ponte de Lima este fenómeno é tipicamente sazonal, mas já vai adquirindo carácter de permanência. São “romenos”, são naturais, são pessoas “espertas”, são excluídos.
A terra é pequena e claro que não há aqui a concentração de indigentes dum cidade. Mas o fenómeno existe, não se podem fechar os olhos. Que existisse uma só pessoa, deve ser ajudada.
A grande visibilidade também deriva de, ao contrário do passado em que o indigente se colocava estrategicamente à espera da “caridade” alheia, hoje ele move-se, dá mais nas vistas, ataca as pessoas em qualquer lugar, em qualquer ambiente.
Esta indigência tem alguns méritos. No geral anda lavadinha, veste bem, e tanto está na pedincha, como está ao nosso lado a comer um prego no Escondidinho ou um pastel de nata no Gérinho.Esta pedinchice que cai como um falcão sobre os turistas no Largo de Camões merece este reparo, compreensivo, mas deve merecer das autoridades sociais e policiais mais atenção.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Quem vence: O estacionamento ou os espaços verdes?

A escola pré-primária de Ponte de Lima foi implantada num terreno que faz gaveto entre a Via do Foral de D. Teresa e a Rua do Sobral, tendo a sua saída para àquela Rua e ficando o terreno sobrante ajardinado com erva.
Em frente da escola o passeio foi reduzido a metade ficando o restante para paragem, que não para estacionamento, que não tem largura, dos carros das pessoas que vão buscar os filhos à escola.
Até aqui tudo bem. Só que nesse reduzido espaço colocaram agora umas laranjeiras, de que se não contesta o valor, mas que anularam o efeito que se tinha alcançado com aquele local de paragem: permitir que na Rua do Sobral se pudesse transitar nos dois sentidos sem constrangimentos em horas de ponta.
Só podemos pensar que são vereadores e serviços camarários diferentes que superintendem nas questões de trânsito e nos espaços verdes e que entre eles há a mais absurda desconexão.
Já quando se abriu a Rua do Sobral se poderia ter deixado espaço para estacionamento e passeio que chegasse para lá colocar árvores. Afinal o terreno ao lado não tem servido para nada e até os cachorros, a atendermos aos sinais que lá estão, estão proibidos de lá entrar, mesmo acompanhados.
Se é para que esse terreno fique limpinho para os forasteiros lá piquenicarem, estão ponham lá mais umas árvores e as correspondentes mesas e bancos a preceito.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Não seria melhor sermos nós a fazer algo pela Humanidade

Está na moda as nossas Terras atribuíram-se um qualquer título que as possa diferenciar, aproveitando para isso alguma característica particular.
A Câmara de Ponte de Lima, incapaz de candidatar a nossa Vila a Património da Humanidade, seja Arquitectónico, Natural ou Oral e Imaterial, para o que manifestamente lhe falta valor, resolveu apresentar um projecto de candidatura com esta sigla de Terra Rica da Humanidade e assumiu-a logo como sua.
Não tendo que ser reconhecida por ninguém a justeza da atribuição deste título, servirá para encher o ego de quem assim procede, e dá mais beleza à correspondência e aos carros.
A Humanidade, essa, a braços com outros problemas bem mais graves como as guerras, os ensaios nucleares, a fome, as doenças endémicas e transmissíveis, o efeito de estufa, não se vai preocupar com isso.
A Unesco, por seu lado, ainda não consultada sobre este assunto, também não tem porque se pronunciar, o título não é dela.
Como não praticamos qualquer facto relevante, como não temos uns monumentos a assinalar feitos grandiosos, sequer umas muralhas testemunhas de batalhas decisivas, como não preservamos a beleza que temos e é pouca a obra humana, como não sabemos cantar o fado e até adulteramos o “ó ai ó la li ló lé la”, o que nos credencia para esta pretensão?
Será que, ainda antes que a Humanidade tenha disponibilidade para se preocupar com estas coisas mesquinhas, com estas vaidades sem conteúdo, com o ridículo que esta situação pode comportar, podemos fazer algo por ela? Bem precisa.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

A nossa face é o Rio

Ponte de Lima, o velho burgo, assentava sobre a ladeira poente de uma suave colina sobranceira ao Rio Lima. A sua expansão presumia-se, e está a acontecer, estendeu-se para o lado sul e continuará a fazer-se no sentido da velha estrada de Braga.
Face à dimensão que a Vila virá a assumir, a sua relação com o Rio cada vez mais se parece com a ponta de um funil, na estreiteza da sua extensão. Mas o que não pode restar em dúvida a ninguém é que esta será sempre a cara de Ponte de Lima, a sua face mais visível e identificadora, como o atesta o pintor André Rocha.
Alguma monumentalidade, a marginal ribeirinha, o Rio, eis como nos mostramos aos outros. Mas impõe-se também que se fortaleça a nossa ancestral simbiose com o Rio, aspecto que, não sendo comparável em Montalegre ou Abrantes, tem merecido a máxima atenção por parte das respectivas autarquias.
Em Ponte de Lima não se sai dos “pré-projectos”, “estudos preliminares”, intenções avulsas, que só residem na cabeça de alguns, concretizações desgarradas. Quando ainda se não resolveu o problema do espaço entre S. João e a Sr.ª da Guia, já se fazem obras sem projecto, sem uma visão estruturante em Campo Raso e na Veiga de Crasto.
Ponte de Lima necessita hoje destes espaços, não para os cravejar de cimento, mas de campos desportivos, jardins, bosques, porque não de parques de exposições, de espectáculos, tudo feito com harmonia, sem acavalitamentos e promiscuidades.
Em Ponte de Lima não se pensa no futuro e depois faz-se tudo à pressa, que assim nem projectos, nem discussão fazem falta.