sexta-feira, 24 de novembro de 2006

A importância da condução não passa por uma simples carta

Não há dúvida alguma: a estrada é a grande obra do homem, identificadora da sua natureza. Ela permite-lhe uma mobilidade que nunca antes tivera. Antigamente aquilo que o identificava era as pernas, o andar de modo erecto sobre elas. Hoje é o andar sobre rodas, de carro claro, com uns cavalos à empurra.
O andar de avião, de barco, de escafandro é só para alguns e só em determinados momentos, descontraidamente. A estrada é para todos e, se necessário, a toda a hora. O carro dá a todo o vivente aquela sensação de domínio sobre o universo, sobre o tempo e o espaço, como nada mais dá.
Na estrada o homem sente-se poderoso, o centro do mundo, de um mundo que é criado por ele, para o qual ele define as regras de utilização e que lhe dá o domínio sobre tudo que resta. Na estrada faz-se aquilo que seria impensável fazer numa outra qualquer relação do homem com o seu semelhante, aqui ignorado.
Na estrada esquecemo-nos que estamos a utilizar um bem precioso em partilha com outros homens que deveriam ser respeitados nos seus direitos, como em qualquer lugar. A agressividade do homem é na estrada que mais se manifesta, o desprezo pela vida dos outros, que ninguém pensa perder a sua.
As coisas têm melhorado, dizem. Mas entendo que a carta de condução deveria ser obtida após uma aprendizagem cívica e com uma cerimónia iniciática a que se daria a importância de um casamento (Esqueçam, é melhor arranjar outra comparação).