quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A incomparável indiferença pelas pessoas

Na nossa sociedade há uma cada vez maior indiferença pelas pessoas à medida que se institucionaliza a responsabilidade pela assistência aos mais carentes de apoio. Transfere-se o que outrora cabia no domínio da caridade e da obrigação moral. Esta falta de Humanidade fere mesmo muitas vezes o núcleo familiar, que até era suposto estar a um nível muito superior à banal caridade.
Os nossos são maltratados mas a preocupação com os animais cresce até à irracionalidade. Colocam-se cães e gatos em condições claramente superiores às pessoas que dormem na rua.
Os zoos domésticos são origem de muitos males. Por natureza os animais estão sujeitos a ter a sorte de muitos homens e mulheres e serem abandonados. A diferença é que os animais recebem esses beijos sem querer e nós não. Nós optamos e suscitamos porque isso sentimentos de compaixão. Os animais, que não escolhem o seu destino, não podem suscitar nada.
As pessoas estragam com mimos os animais que são mais indefesos do que nós. Não se criam com a naturalidade devida e quando são devolvidos à natureza, libertos da acção humana, não conseguem viver com a dignidade “animal” que lhes é própria.
As associações que tentam minimizar este efeito são louváveis mas não se podem cingir a lavar a cara à realidade. Elas próprias não podem ser promotoras de comportamentos que originam esta situação. Não podem tapar as falhas dos donos dos animais.
A estimação de animais, razoável e legitimada por hábitos ancestrais e, noutras civilizações, até pela religião, responsabiliza quem a faz e obriga as pessoas pela dependência que criam.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

As perigosas relativizações de Daniel Campelo

Daniel Campelo com o seu gosto por tiradas bombásticas quis comparar sarrabulho e IKEA e deu origem a uma polémica pitoresca. Não traz qualquer benefício para o concelho pôr em confronto duas actividades diversas, mas compatíveis.
O sarrabulho está aí há umas dezenas de anos e recomenda-se. Gostemos ou não dele, digamos que é um objectivo “patriótico” valorizá-lo. Mas também criar novas variantes, com carne de origem local (bízaro) e novas alternativas. Não faltarão clientes. Porém, não é o sarrabulho a indústria âncora para outras.
A IKEA era outra forma sustentada de termos uma indústria de futuro. O perigo pelo qual podia um dia passar é igual ao perigo na indústria do sarrabulho, se um dia as pessoas enjoarem dele. Falta fazem IKEAs, que não esta, que sejam outras mais pequenas.
Esta polémica é um puro exercício académico com que se pretende desresponsabilizar quem acha que não fez tudo o que podia. Para mim tudo se deve a um atraso que não é de agora, mas se Daniel Campelo tinha contactos da Suécia devia ter-se antecipado. De resto o sonhar tem o seu limite e eu nem sonhei.
Em fins de 2005 Daniel Campelo também afirmou que o Festival de Jardins tinha cá deixado 2 milhões de Euros. Ficamos sem saber onde. Agora ficamos sem saber onde estão os 1500 trabalhadores do sarrabulho. Mas isto são afirmações gratuitas sem consistência, sem meio de prova algum, “políticas” que baste.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Afinal quem é o Minhoto?

Quando ouço frequentes ou arrebatados elogios, fico logo de pé atrás. Não alinho facilmente em panegíricos, cheiram-me a esturro. Logo suspeito que estarão a querer tramar alguém.
Essa louvação ao Minhoto, que amiúde se ouve, elogiando-o pela sua franqueza, lealdade, humildade, espírito trabalhador e tantas outras coisas positivas é antiga, já muito gasta.
De tanto usada adquiriu o carácter de um estereótipo de que se não cura de saber se tem consistência ou se é a avaliação derivada de um mero contacto superficial e passageiro.
Temos obrigação de não acreditar em todos os rótulos que se apunham indiscriminadamente às pessoas. Se alguém é manhoso, traiçoeiro, arrogante, mandrião, ou merecedor de outros epítetos piores, que lhos atribuam. De elogios basta.
O Minhoto, como todo o Português, aventura-se mas, encontrado o seu sítio, é avisado, não arrisca muito, não gasta todos os trunfos de uma só vez. É subserviente como outros.
Aquilo que nos parecem às vezes características intrínsecas não serão antes dependentes dos circunstancialismos económicos, sociais e culturais que lhe podem incutir alguma diferença?
Se transitarmos deste estereótipo para outro mais inovador, de modo abrupto e radical, chegamos pelo feminino a uma “Laura” qualquer, tal qual a das “Sete Vidas”, desmiolada e exibicionista.
O que temos a fazer é largar este estereótipo, não lhe ligar, vamos como todos adaptando-nos com paciência aos novos circunstancialismos, mas sem adormecer em qualquer travesseiro.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Uma fenda no monolito camarário

O Executivo Camarário de Ponte de Lima tem revelado, nesta e na década anterior, um carácter de tal modo monolítico que já tem engolido os Vereadores da Oposição. Mas nada é eterno e o rochedo, por mais duro que se tenha mostrado, fendeu-se.
O Vereador Gaspar Martins, em divergência com o Presidente Daniel Campelo prescindiu duns pelouros, que não de outros. Revelou incapacidade técnica? Falta-lhe visão política? Porque terá perdido metade da confiança politica, à moda da deputada do P.C. Luísa Mesquita? Ficamos sem saber.
Às vezes as pessoas calam-se porque o silêncio é a alma do negócio, mesmo se público. Mesmo quando se apercebem que o estar calado consente todo o tipo de especulações, e sabem que isso não é bom. Mesmo se sabem que uma remodelação destas se não admitiria quando estão em causa pessoas que se conhecem há muito e que há três mandatos têm uma parceria íntima.
A meia confiança política parece um exercício malabarista demasiado arriscado e penoso. Para os democratas as relações políticas não são contínuas, baseiam-se sempre em fidelidades temporárias. Mas em cada momento se exige frontalidade.
Se não chegarmos a saber como as coisas se passaram, esta fractura é um rasgo profundo no prestígio de Daniel Campelo, em muito baseado nas suas capacidades de discutir, convencer, persuadir e noutras que neste ascendente se possam imaginar.Se Gaspar Martins é imune a esta dialéctica e esta relação se vai arrastar nesta inquietante incomodidade, é legítimo perguntar: quem poderá agora Daniel Campelo convencer?

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Quanto mais conheço os cães mais gosto das pessoas

Eu poderia escrever aqui que gosto de animais, da natureza, dos seres vivos, como dos inertes, que ninguém teria o direito de pôr isso em dúvida. Os gostos nem se discutem sequer. Poderá alguém mais atrevido fazê-lo, é evidente. E até querer prová-lo. Por exemplo afirmar que “se gostas de cães com certeza lhes dás beijos”. Claro que não, eu cá e os cães no seu lugar.
As pessoas que dizem que “quanto mais conhecem as pessoas mais gostam de cães” serão capazes de o fazer, que tenham disso proveito, é o que eu estimo, mas esses que falem com os cães, que comigo não, que eu prezo que continuem a gostar mais deles.
Eu, por mim, quanto mais conheço os cães mais gosto das pessoas, embora reconheça que algumas pouco fazem por isso. Mas acaba aqui, respeito-os e tanto basta. Por certos cães e por outros animais até tenho alguma compaixão. Todos são lindos, o homem é que estraga alguns.
O homem quer desvirtuar a natureza de muitos animais, salvo os que lhe aparecem no prato. Os cães de Regadas foram lá colocados numa solução temporária que se tornou horrivelmente definitiva. Aqueles bichinhos não nasceram para aquilo.A União Europeia é insuspeita quanto ao gosto por tudo que é alimárias, nem querem que elas sofram demasiado stress quando vão para o matadouro. A U. E. pagou o Canil Intermunicipal de Fornelos para fazer respeitar as suas normas. Que seja responsabilizado o Chico Esperto que não as respeitou.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Quando se tem sede de justiça grita-se

A Vila de Arcoselo deveria merecer uma outra atenção da parte da Câmara Municipal de Ponte de Lima. Não por ser Vila, mas de certo por ser a maior freguesia, a que tem uma sua parte integrada na Zona Histórica da Vila de Ponte, por ser a zona de expansão natural da malha urbana, por ter a indústria mais fiável de todas as que possam existir, por dar um largo contributo para o rendimento concelhio e para as finanças públicas.
No entanto, pasma sem remédio. A Câmara programa para Arcoselo museus, jardins, parques, miradouros, horizontes. A população agradece o ar puro, a paisagem, desculpa algum artificialismo. Só não leva a bem a falta de estruturas, de vias de circulação, de rasgo em relação ao futuro.
Arcoselo levou com a auto-estrada em cima e com o trânsito de acesso sem para isso estar preparada. Uma via estruturante de Brandara à entrada norte da auto-estrada nas Pedras Finas, assim como de Santa Comba à entrada sul da mesma, são necessidades evidentes. A criação de uma bom acesso de S. Gonçalo ao Convento de Val Pereiras, bem como um acesso condigno à parte norte da freguesia são essenciais. Tudo em alcatrão, como os autarcas gostam, mas mesmo assim nada está previsto.
A arrogância de quem detém o poder e tudo faz ao contrário do que seria aconselhável não é boa conselheira. Mas quando se tem sede de justiça grita-se.