quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A incomparável indiferença pelas pessoas

Na nossa sociedade há uma cada vez maior indiferença pelas pessoas à medida que se institucionaliza a responsabilidade pela assistência aos mais carentes de apoio. Transfere-se o que outrora cabia no domínio da caridade e da obrigação moral. Esta falta de Humanidade fere mesmo muitas vezes o núcleo familiar, que até era suposto estar a um nível muito superior à banal caridade.
Os nossos são maltratados mas a preocupação com os animais cresce até à irracionalidade. Colocam-se cães e gatos em condições claramente superiores às pessoas que dormem na rua.
Os zoos domésticos são origem de muitos males. Por natureza os animais estão sujeitos a ter a sorte de muitos homens e mulheres e serem abandonados. A diferença é que os animais recebem esses beijos sem querer e nós não. Nós optamos e suscitamos porque isso sentimentos de compaixão. Os animais, que não escolhem o seu destino, não podem suscitar nada.
As pessoas estragam com mimos os animais que são mais indefesos do que nós. Não se criam com a naturalidade devida e quando são devolvidos à natureza, libertos da acção humana, não conseguem viver com a dignidade “animal” que lhes é própria.
As associações que tentam minimizar este efeito são louváveis mas não se podem cingir a lavar a cara à realidade. Elas próprias não podem ser promotoras de comportamentos que originam esta situação. Não podem tapar as falhas dos donos dos animais.
A estimação de animais, razoável e legitimada por hábitos ancestrais e, noutras civilizações, até pela religião, responsabiliza quem a faz e obriga as pessoas pela dependência que criam.