terça-feira, 31 de outubro de 2006

Delicada papagaia, inocente pomba ou fraca milhafre

De certo que o nosso Director não pensou que eu poderia ter tido a indelicadeza de atribuir aos meus companheiros de coluna qualquer título que eu próprio rejeitaria. Mas resolveu brincar com esta questão das águias e dos abutres e nada de mais saudável.
Nunca a saudei, e disso me penitencio, a nossa companheira de jornada, a bela Rosa, e aproveito para preencher essa lacuna. Não a conhecendo pessoalmente, o que lastimo, também só agora lhe vou definindo os “contornos”, a substância a que me dirigir.
Espero vir a dar-lhe um beijo, que não no jardim, na redacção. Se me perguntar a opinião não lhe atribuiria o título de águia mas antes um mais gracioso de pomba … e branca, tal o seu reiterado gosto pelos jardins.
Jardins que não terão proporcionado tanto proveito assim, pergunte-se aos comerciantes, que não serão dessa opinião. Se me permite, dir-lhe-ei que já ouvi isto em qualquer lado, pelo que me parece que, em vez de águia, me está a parecer mais uma papagaia.
Jardins, harmonia ou desarmonia contextualizada, podem não ser mais que o pano que tapa tanta carência e pecam pela falta evidente de enquadramento, que não com a beleza da paisagem.
Por este andar, com a candura de uma branca pomba e a delicadeza de uma papagaia, ainda um dia, ao passear nos seus amados jardins, algum fraco milhafre, que aqui não chegam as altaneiras águias, poderá picar sobre si e (oh “recordações”!) vir a comer consigo algum piquenique de … pomba na relva.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

O cheiro dos governantes até era bom

Nós habituámo-nos e depois sentimos a natural falta. Há tanto tempo que não vem cá um membro do Governo para inaugurar qualquer coisinha que ocorre-nos um sentimento de estranheza. È que nós até já convivíamos bem com o cheiro dos governantes.
Será birra? Cá o nosso primeiro chamou salafrários a alguns ministros e nenhum vai saber se lhe toca ou não a ele. Ou será que não haverá nada para inaugurar?
Em relação à 1.ª hipótese parece não constituir problema. Houve algum mal-entendido mas cá o nosso primeiro já depois disso foi mandando uns telegramas de apoio noutras questões e tal deve chegar para melhorar o ambiente.
Por exclusão de partes a resposta está claramente na segunda hipótese. Fala-se em mais um terraço de cimento para os cavalos mas para já nem uma égua lá se viu. E lá se vai delapidando um espaço da Rede Natura, para onde já esteve pensado um campo de golfe mas que agora é uma manta de retalhos.
Fala-se, de vez em quando, no canil, mas ninguém diz porque temos de continuar a suportar um improvisado em S. Gonçalo. Fala-se da ligação do gaz natural mas isso só vai ser para “meia dúzia”. Mais uma vez o Centro Histórico vai ficar desfavorecido.
Fala-se, fala-se, mas das obras que podiam levar a colocar a já típica chancela “Inaugurado pelo governante X na presidência da Câmara de C” não se espera nada para este ano.
É prática protocolar mas digam lá se não é verdade: Do governante, que no geral até pouco contribui para o caso, ninguém mais vai ouvir falar; dum presidente da Câmara não se espera tanta vaidade. Das obras, talvez para 2009 haja algumas.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

A nossa centralidade e o exemplo dos pronto-socorros automóveis

O ter escrito um artigo sobre águias, garças e abutres levou-me a uma estranha associação de ideias. Muita gente está a, aparentemente, nada fazer. Só que é para que, quando for necessário, possam ocorrer ao chamamento urgente.
São bombeiros, médicos, enfermeiros, polícias, mais e muitos mais profissionais que estão prontos a socorrerem-nos a qualquer momento. E como tal têm à sua disposição os “pronto-socorros”.
A rotunda de S. Gonçalo começou há tempos a ser o local privilegiado de estacionamento de alguns carros de reboque, da classe dos ditos “pronto-socorros”, mas cuja primeira impressão causada deu para que lhes chamasse abutres.
Pensando porém melhor o seu papel é tão meritório como o de outros profissionais do socorro, prontos que estão para correr a desobstruir uma via, para nos libertar de uma carro que já é um estorvo para nós. Como certas associações de ideias são injustas!
O que isto parece provar, pensando ainda melhor, é que a nossa centralidade foi descoberta por todos, até por pedintes, menos por nós e tarda a ser aproveitada em benefício do concelho.
O que falta para que os empresários da nossa terra, com certeza que há dinheiro, se abalancem a concentrar em Ponte de Lima serviços que cá deixem alguma mais valia? Se estamos só à espera de grandes empreendimentos bem estiolamos.
Tendo rejeitado há anos a hipótese de sermos o supermercado do Alto Minho, resta-nos a especialização, a inovação, a iniciativa. Para que não nos chamem nomes feios, porque quem espera sentado pelo cheiro da boa comida já só alcança os sobejos.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Arregalamos os olhos, esticamos a corda dos salários

Quando aderimos ao Euro, já lá vão uns anos, criou-se a ilusão de que, rapidamente, os nossos salários se equiparariam aos praticados nos outros Estados Membros.
A produtividade, essa terrível arma de arremesso usada por políticos e empresários, sempre que lhes convém, como se eles não tivessem nisso as maiores responsabilidades, tem servido para suster os salários na base da pirâmide social.
No topo da pirâmide social, porém, essa conversa não faz mossa, pelo contrário, os salários, se assim lhes podemos chamar, chegaram ao melhor do melhor que se pratica lá fora num abrir e fechar de olho.
A corda que sempre liga a base ao topo foi esticada ao máximo de modo que o topo subiu tanto que a distância se tornou insuportável, ultrapassando-se largamente a grelha de rendimentos que em média se pratica lá fora.
Esta indecorosa situação social, de que parece nem todos se apercebem, já foi denunciada sob o aspecto moral por forças que entendem dever ter esse tipo de intervenção. Na verdade as implicâncias desta situação são muito mais vastas e algumas são mesmo, à sua maneira, positivas, perdoem-me a desfaçatez.
Colocaram à vista de todos, juntamente com o escândalo dos excessivos proventos, a vergonha que constitui o número de parasitas incrustados numa máquina ancilosada e que mais contribuem para a manterem inoperante e ineficiente.
Não somos daqueles que dizem que o mal vem sempre por bem mas será imperdoável que não aproveitemos a evidência desta situação para corrigir tanta anomalia que existe no aparelho de Estado.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Preparem-se com as vacinas que os jardins suspensos ainda lá estão

O Outono lá chegou, em devido tempo, diga-se a propósito. Com abaixamento de temperatura, alguma chuva, as aulas para os mais novos, as vacinas da gripe para os mais velhos.
Que faltam, embora, ao que parece, esta questão se refere mesmo à escassez da vacina e não à escassez de dinheiro, que de falar dessa já estamos um pouco saturados.
Seja o Estado, sejam as farmácias, seja quem for o responsável, não compra porque não há vacinas, estas coisas não se fabricam clandestinamente e não dão para especular.
Se não é a economia mas sim a biologia ou a farmacologia que não conseguem ultrapassar esta escassez, devemos, mesmo assim, estar alerta para que, por incúria ou favorecimento, a vacina não falte aos mais necessitados.
Em anos passados foi um vaivém de andaimes (não vou fugir do assunto descansem), um sobe e desce contínuo para limpar caleiras, para colocar novas e substituir antigas.
Só que nem todos o fizeram, nem todos puderam ou nem todos foram obrigados. Chamo à baila, como exemplo, o prédio junto às casas de banho do Lg. de Camões que anda há uns anos a propiciar uns bons banhos, quando eles menos precisos são, nas frias épocas de Outono e Inverno.
É ver como as sementes desabrocham, como as ervas já estão verdinhas, tanto húmus tem aquele telhado e as caleiras, da maneira que estas vergam ao seu peso.
Não sei a quem responsabilizar pela existência destes jardins suspensos, caso alguém se venha a constipar por gramar com tão inconveniente banho e não estar vacinado, sujeito ao rateio das doses de vacina. Claro que não é denúncia. Há mais…

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Antelas será só lucro fácil, ganância?

Contrariamente ao que um “político com blog” afirma, eu não defendo só o presente e nego o futuro e, muito menos, defendo o lucro fácil no caso das pedreiras da Serra de Antelas.
Mas também não defendo o choradinho sobre a exploração dos trabalhadores ou o alarido daqueles que, quando lhes convém, chamam ganância à “sorte” de alguns de ter oportunidade de valorizar um trabalho de gerações.
Porque genericamente não são paraquedistas, mas sim aqueles cujas famílias e eles próprios trabalharam anos e anos no duro, que reinvestiram, arriscaram e pelos vistos ganharam.
Poderíamos falar de fuga aos impostos, deveres e regras que se não cumprem, condições de trabalho e ordenamento que não existem, direitos que se não respeitam, mas para falarmos de apropriação indevida é melhor estarmos calados.
O direito à propriedade não é sagrado para uns e diabólico para outros. O direito de propriedade tem as limitações da Lei.
O direito ao futuro é que pode servir como base a uma discussão séria, que não passe por banalidades, lugares comuns, acusações obscenas, fundamentalismos de pacotilha, trivialidades de “fazedor de opiniões”, por jogadas verbais em que do bem comum se faz o joguete do costume.
O direito ao futuro é o direito à água límpida, ao ar puro, aos outros elementos essenciais da vida, à fruição de um mundo que o homem colocou à sua quase exclusiva mercê, para o bem e para o mal, o que eu não neguei poder estar aqui em causa.Eu, tão só, coloquei a questão ao nível do direito à paisagem e nessa instância ele não é eterno. A paisagem sofreu, sofre e continuará a sofrer evitáveis e inevitáveis alterações.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Não se confunda a mensagem com o mensageiro

Fui surpreendido pela colocação de “uma” minha imagem nesta pequena crónica. Não que eu me esconda de nada com coisa alguma. Não que eu tenha receio que se “confunda” a mensagem com o mensageiro.
Alto lá! Não é pretensiosismo mas não se arranje outra “confusão”. Esta referência à mensagem nada tem a ver com a qualidade da escrita. Fiquemos somente com o carácter técnico e deixemos descansada a valia do que se escreve.
Uma mensagem só adquire a sua perfeita eficácia se a não confundirmos com o mensageiro. Há coisas que “têm” que ser ditas e não agrada ao mensageiro falar delas. Até podemos dizer que este ou aquele assunto não cabe na “ambiência” do mensageiro.
Pelo contrário, há coisas que “não têm” que ser ditas mas agradam ao mensageiro e então perguntar-se-á para que se mete “este gajo” em assuntos que, por sublimes, não estão dentro do alcance das suas capacidades?
O óptimo era ler, não ter “ideias feitas” sobre o que deve ser dito e não dito e avaliar independentemente da origem. E claro que era óptimo ter travões para recuar quando vier ao pensamento a velha máxima: “ não sei quem é este gajo mas nesta é que me não leva”.
O óptimo era ser capaz de, se for caso disso, se ela “passar”, integrar a mensagem na nossa sabedoria de vida, transmiti-la uma dia sem necessidade de citar a origem, sem “pagar” direitos de autor: Como se ela já fosse nossa desde sempre, parte da nossa sabedoria, um “”“átomo””” da sabedoria universal.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

O valor de uma prenda é o de quem a oferece ou o de quem a recebe?

O Presidente da Câmara de Ponte de Lima, Daniel Campelo, brindou um dia o mediático Prof. Carrilho com uma escultura de granito fino de um Santo António, que o prendado, mais habituado a manipular ideias, deixou cair, vergado ao peso da substância.
O mesmo não aconteceu ao Rei da vizinha Espanha, quando o nosso Presidente da República, Prof. Cavaco Silva, lhe ofereceu um PDA da última geração, com software português de gema.
A escolha de uma prenda assim tão soft teve o objectivo de chamar a atenção dos meios de comunicação para as nossas capacidades e realizações, que já vão surgindo nesta área e que nós devemos ser capazes de vender ao estrangeiro.
Desculpar-me-ão, porém, se manifestar a minha estranheza por esta oferta de um artigo que, sendo valioso é perecível. Não passarão muitos anos e ele será remetido para a pré-história da comunicação. A Realeza gosta de artigos mais substanciais.
A não ser que nós nos consigamos manter na crista da onda desta área e se consiga fidelizar o Rei dos Espanhóis como cliente destes produtos. Então este PDA poderá um dia ter direito a um lugar em qualquer museu dedicado à respectiva arqueologia.
Não fora esta esperança eu diria que esta é uma prenda mais para o mordomo do Rei do que para o próprio e que mais apropriada para Sua Alteza Real seria uma escultura de São João, artisticamente esculpida pelos nossos Irmãos Sequeiros, com fino granito das nossas pedreiras de Santo Ovídio.