sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Arregalamos os olhos, esticamos a corda dos salários

Quando aderimos ao Euro, já lá vão uns anos, criou-se a ilusão de que, rapidamente, os nossos salários se equiparariam aos praticados nos outros Estados Membros.
A produtividade, essa terrível arma de arremesso usada por políticos e empresários, sempre que lhes convém, como se eles não tivessem nisso as maiores responsabilidades, tem servido para suster os salários na base da pirâmide social.
No topo da pirâmide social, porém, essa conversa não faz mossa, pelo contrário, os salários, se assim lhes podemos chamar, chegaram ao melhor do melhor que se pratica lá fora num abrir e fechar de olho.
A corda que sempre liga a base ao topo foi esticada ao máximo de modo que o topo subiu tanto que a distância se tornou insuportável, ultrapassando-se largamente a grelha de rendimentos que em média se pratica lá fora.
Esta indecorosa situação social, de que parece nem todos se apercebem, já foi denunciada sob o aspecto moral por forças que entendem dever ter esse tipo de intervenção. Na verdade as implicâncias desta situação são muito mais vastas e algumas são mesmo, à sua maneira, positivas, perdoem-me a desfaçatez.
Colocaram à vista de todos, juntamente com o escândalo dos excessivos proventos, a vergonha que constitui o número de parasitas incrustados numa máquina ancilosada e que mais contribuem para a manterem inoperante e ineficiente.
Não somos daqueles que dizem que o mal vem sempre por bem mas será imperdoável que não aproveitemos a evidência desta situação para corrigir tanta anomalia que existe no aparelho de Estado.