sexta-feira, 18 de abril de 2008

A morte, a fuga ou o cansaço da Garça?

Convidaram-nos um dia para uma sarrabulhada. Era na casa de um lavrador abastado que eu não conhecia há muito tempo mas que se me revelara ser uma pessoa de princípios, que olhava a meios para atingir fins. A casa de lavoura era ampla o suficiente para albergar na sala principal uns vinte convivas, a família, os compadres, uns amigos mais chegados, até o padre.
O dono da casa era pessoa frugal, nas ocasiões festivas não havia que fechar a carteira e em particular, comemorando-se um aniversário significativo para a família, resolveu convidar também para participar nesta alegria este amigo recente e mais dois, sem que o tempo constituísse para ele qualquer critério.
Quando já todos estávamos nos aperitivos, surgiram umas tantas pessoas, não se sabe de onde, nem quem os havia convidado, que se foram juntando ao grupo já constituído com ares tão insinuantes que a maioria os recebeu sem constrangimento, sem se interrogar porquê.
Quem já conhecia um era eu, um figurão de primeira, de bons modos, mas de cuja presença não descortinei os motivos de momento. O dono da casa com alguma estupefacção, mas sem desconforto, logo os convidou a almoçar e quem era eu para fazer algum reparo?
Sem alarido desviei-me para a sala ao lado, onde já se afadigavam a arranjar mesa para cinco pessoas, as quais acabaram por ser eu e os meus dois companheiros, mais dois velhos amigos do anfitrião sempre prontos a colaborar.
O lavrador abastado ainda nos visitou mas pareceu receoso das palavras, temeroso de mais para quem estava em sua casa. Não levei a mais do que um sinal de subserviência neste homem que sabia tudo da terra mas pouco de lavrar as palavras.
Sempre o considerei, sempre que o encontrei não medi o tempo que lhe dediquei, procurei seguir o sulco deixado pelas suas palavras, congratulei-me com os momentos de fulgor da sua vida e lastimei os desaires. Mas sempre declinei qualquer outro dos convites que me veio a dirigir para ir a sua casa

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Os jovens sem horizontes ficam-se pelo caricato

Os jovens têm à sua frente o tempo todo do mundo. Os jovens têm à sua frente o mundo todo. Aquilo que podia ser outrora motivo de aventura, que se desconhecia e só pressentia para além das nossas limitadas vistas, fronteiras, possibilidades, é hoje um mundo aberto, amplo, fraterno.
Por mais divergências que tenhamos com o mundo, nós sabemos que ele nos compreende, sabe quais são as nossas ambições, conhece os nossos mais íntimos desejos. E nós também o entendemos, sabemos que ele não quer mais do que nós queremos, que os seus desejos são os nossos, afinal.
Este anel à volta do mundo não é o anel da solidariedade que se imponha mas pelo menos é o anel da humanidade em que cada vez mais nos reconhecemos. Sabemos que temos que viver uns com os outros, mas que isto não é nenhum mal a que estejamos condenados, antes vai servir cada vez mais de alimento para a nossa criatividade.
A nossa vida colocou-nos em diferentes pontos de observação, limitou de modo diverso o alcance das nossas vistas, submeteu-nos a um constante vai e vem de perspectivas. Quando se pensaria que os homens mais experientes seriam os mais avisados, eis que nos surge na nossa frente uma luta incessante de interesses a que com dificuldade fugimos.
A nossa juventude tem o tempo e o mundo à sua frente mas também estes perigos da insensibilidade e da mesquinhez. Os interesses não são apanágio dos velhos mas também ela os já bebe com o leite materno. Por isso o esforço educativo tem que ser canalizado para a humildade e a fraternidade, para a comunhão da alegria que não seja à custa da tristeza.
Na minha juventude andávamos sempre à procura do caricato para nos rirmos. Encontrávamo-lo por todo o lado e pouco mas também na escola. Hoje com tanta permissividade, mas tanta regra, o jovem também procura. O caricato está pouco por todo o lado e muito na escola. Esta tem que lhe abrir novos horizontes.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A Primavera no ciclo das Estações

Somos muito determinados para o bem e para o mal pelos ciclos naturais, é sabido. As estações do ano constituem um desses ciclos que exercem em nós uma forte influência, predispondo-nos para actividades indispensáveis na época e desmotivando-nos para outras. Só que a nossa vida já se desviou bastante desses ciclos.
Esta estação em que estamos, a Primavera, a mais promissora em termos de processo vegetativo de todas as quatro, traz-nos também problemas, até físicos, que todos sentem, uns porém mais intensamente do que os outros. Nascem-nos borbulhas, temos alergias, etc., etc.
Mas o que me interessa é que, sendo a Primavera a época por excelência das flores, do revigoramento do tecido vegetal, não é, no entanto, propícia a uma escrita leve, escorreita, despretensiosa. As palavras prendem-se, custam a sair, em contraste flagrante com a natureza exuberante.
Parece evidente que a natureza não gosta de palavras, antes quer contemplação, deslumbramento. Ela absorve-nos em certa demasia o espírito. Apresentando-nos tudo como constituído, não nos deixa grande espaço para criações nossas. É normal nesta altura virmos expressar opiniões embasbacadas e levianas sobre os propósitos que a natureza terá em nos enlevar.
Normalmente nós construímos para colmatar uma falha da natureza, para compensar um defeito, para a complementar, mas quando ela nos aparece assim tão cheia, tão dotada de todos os atributos que nós atribuímos ao belo, achamos que a mexer na natureza corremos o risco de a estragar.
Fugindo à ligeireza das palavras de ocasião, eu gosto de jardins, do espírito do jardineiro, mas a natureza acompanha-nos na rejeição de que se queira aprisionar a beleza dentro de um gradeamento. Numa cidade os jardins devem ser vistos mais pelo seu aspecto sanitário, prático do que da beleza em si.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Este rio tem história que é parte da nossa história

O nosso rio é como um ser vivo, tão importante, tão sensível, tão vulnerável, cujo valor não pode ser comparado e que ultrapassa a nossa dimensão. Devíamos tratá-lo com o carinho que dedicamos às pessoas de que mais gostamos.
Infelizmente pouco se sabe dele, do seu passado a não ser que dá lampreias e já deu peixes bem mais nobres e salutares. Deixamos que lhe fizessem todas as maldades, que o utilizassem no único propósito de encher os bolsos a alguns.
O nosso rio é grande em tudo, só em cumprimento é pequeno. Parece até impossível como em tão curto trajecto arrasta consigo tanta água. Só se compreende por sermos a região do País em que mais chove e ser larga a sua bacia, quanto mais avançamos para a nascente, do Laboreiro ao Xerez.
Em 1949 foi inaugurada a barragem de Las Conchas que submergiu as melhores terras do médio Límia. Na altura não foram estudadas os reflexos desta barragem no curso inferior do rio, mas é natural que não tenham sido significativos porque continuaram a haver grandes cheias no Inverno e seca no Verão.
O pequeno aproveitamento do Lindoso de então não teve qualquer implicação visível embora os ladrões espalhassem periodicamente a ideia que iam abrir a barragem para causarem o pânico na feira e se entregarem melhor ao seu “trabalho”.
Nos anos sessenta o governo espanhol promoveu a canalização dos dois cursos de água que dão origem ao Límia, secando a maioria do sistema lacunar da longa planície de Ginzo de Limia. Foram alterações profundas ou tratar-se-á apenas de bulir na superfície e o sistema mantém-se inalterado?
No entanto foi há 15 anos que se deu a grande revolução neste rio com a barragem de Lindoso e com todas as implicações que isso teve no sistema de cheias, no regime de caudas que passaram a variar de uma maneira diferente da de antigamente. A história deste rio é também a nossa história.

sexta-feira, 21 de março de 2008

A nossa cabeça está cheia de lixo

“A nossa cabeça está cheia de lixo” o que sendo uma verdade insofismável já chegou ao domínio da canção. Não há dúvida que é uma forma pedagógica de transmitir uma ideia. Mas como todas as fórmulas simplificadoras corre o risco de se perder e não ter muitos efeitos práticos.
O lixo não é só constituído por aquelas séries que alguém memoriza para se dar ares de alguma sabedoria em algum domínio. Há quem recorde com precisão matrículas de carros, resultados e jogadores de futebol, filmes, canções. E ainda há séries mais extravagantes, sem préstimo que se veja.
No geral são dados sistematizados cuja classificação como lixo pode ser um pouco abusiva. Sendo o lixo aquilo que nós podemos deitar fora sem que isso constitua qualquer perca significativa para nós, não há dúvida que há outros dados dispersos de que nos poderíamos ver livres sem prejuízo.
Normalmente nós gostamos de recordar muita coisa, mas com a experiência começamos a ser mais selectivos. Mas se ainda vamos a tempo de colocar um filtro à memorização de pormenores sem interesse é porém mais complexo livrarmo-nos daquilo que na inocência de outros anos guardamos inutilmente.
Esta possibilidade de escolha daquilo que é lixo faz-nos também pensar em como seria benéfico deitarmos fora da nossa memória as coisas desagradáveis que vivemos, os momentos de humilhação, ou até de desvario da nossa parte.
Não será tão fácil, até porque as repercussões desses períodos mais negros já se terão repercutido na nossa emotividade. E alterar este estado de coisas só com uma diferente compreensão dos acontecimentos, com um melhor conhecimento de nós mesmos, caso contrário ficará um hiato insuportável. São experiências com que aprendemos a viver.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A nossa morfologia casa-se com o rio e as canoas

Nós Limianos, será melhor não entrar nessa polémica do nome, vivemos pouco virados para o rio que no-lo deu. No entanto nós não lhe devemos só o nome, devemos-lhe tudo, esta largueza de vistas, esta paisagem cercada de serras, estas planícies fartas, este ar puro, este céu azul.
Conhecemo-lo como um rio rebelde. Não tinha aquela paragem tão acentuada no Lindoso. Vinha de “Las Conchas” com tanta bravura que mantinha limpas as suas margens, a areia fina do seu leito, a sua água era límpida e cristalina. Galgava as margens no Inverno, mirrava nas suas areias no Verão.
Hoje ainda não é o charco de água putrefacta que outros são, o canal de imundice em que alguns se tornaram, traz sempre alguma água graças à sua retenção na barragem do Lindoso, mas a sua estagnação torna-a pouco límpida, a poluição também sub-repticiamente se vai agravando.
Mas o Rio Lima ou Limia, como se queira, é a menina dos nossos olhos e tudo devíamos fazer por ele. E devemo-lo utilizar em todos os aspectos que quanto o mais fizermos mais o amamos. Se ainda pudermos fazer piquenique e andar de barco.
A nossa juventude tem hoje ao seu dispor o Clube Náutico de Ponte de Lima, como espaço para a prática de um desporto saudável. A canoagem casou-se de tal modo connosco que, sendo hoje já um desporto importante, sem dúvida irá constituir no futuro o desporto mais praticado em Ponte de Lima.
A canoagem adequa-se perfeitamente à morfologia da maioria dos nossos jovens e tem pois um vasto campo de aplicação. Adapta-se tão bem como se a canoa fosse a mais natural maneira de nos relacionarmos com a natureza. Decerto que é a mais antiga.
O único contra é que o rio necessitava de uma adaptação para a prática da canoagem, da criação de um canal mais fundo que desse outra sustentabilidade às canoas. As algas finas que tomam conta do seu leito enrolam-se nos lemes, os barcos encalham nos bancos de areia, os atletas lesionam-se.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Preparar uma decisão afastando o melindre

Se procuro escrever estas linhas em todas as edições deste Jornal é porque tenho disponibilidade para uma intervenção a diferentes níveis e a acho de algum modo útil. Não me é pedido ser pró ou contra, seria descabido, aliás só excepcionalmente as coisas são assim tão simples.
Temos muitas vezes a falsa ideia de que o poder nos exige que sejamos a favor ou contra todas as suas medidas. Dificilmente isso pode acontecer e quando aquele apoio é pedido há a procura de um totalitarismo absurdo, o que deve ser desde logo rejeitado. A nossa dignidade deve-nos impor isso.
Claro que devemos fazer um cômputo geral, uma avaliação mais ou menos detalhada e tirar uma conclusão. Mas esta será sempre subjectiva e devemos ainda assumir a sua relatividade. Deve ter em conta acima de tudo as opções em presença e não outras de que possivelmente gostaríamos mais. E além disso esta apreciação global só se justifica em certos momentos.
O que normalmente acontece é que este facto, a falta de alternativa viável, leva muita gente a uma atitude acrítica, a um militantismo anti-opinativo, vindo ainda dos tempos de Salazar. Esta ideia de que quem critica é prejudicial a quem faz é bizarra. Quem faz deve ter em conta as críticas no processo de decisão.
Ninguém se pode colocar a um nível superior, de se não querer submeter aos reparos dos outros. Principalmente quando se fazem coisas novas, quando se sai de um alinhamento mais previsível, imponha-se uma discussão aberta e que fossem facultados todos os dados que sustentam a decisão.
Quem pretende exercer o poder ou de qualquer maneira intervir deve-o fazer quando é possível e à posteriori se tiver que ser. O que se nos impõe é sermos claros na sustentação de um decisão diferente, de um outro rumo se for caso disso. Quem se sentir melindrado só tem que se preparar melhor para tomar melhores decisões.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O sobe e desce dos nossos passeios

A zona histórica da Vila de Ponte de Lima foi há anos empedrada segundo um gosto que não é o de todos, mas as modas são assim. A pedra deveria ter sido exclusivamente da região, mas não o foi, tendo até sido instalada alguma pedra espanhola de textura e cor diversa da de cá.
Neste empedrado contínuo houve necessidade de colocar tampas para acesso a caixas de vária origem, desde saneamento, telefones. A pedra de granito é dura mas a sua resistência depende muito da forma como é cortada, como é colocada, da disposição das suas faces.
Estas tampas andam permanentemente partidas. Toda a espécie de transportes invade as áreas pedonais da zona histórica para cargas e descargas a qualquer hora do dia, sem quaisquer regras, contrariamente à prática existente em locais semelhantes. É tal o movimento que ninguém diria que o comércio dessa zona estivesse em crise, como está.
Peão sofre. Partem-se uns tacões, estragam-se uns sapatos, torna-se penoso ter que passar várias vezes nos mesmos locais. E a solução era tão fácil. O granito não é material que dê para fazer tampas de dez centímetros e tampas mais grossas tornar-se-iam difíceis de remover quando se queira aceder às caixas.
Mas não é só aqui que os peões têm problemas. Parece que determinadas ruas ainda são entendidas como estradas que atravessam a Vila. Faltam passeios em vários locais como a Via Foral D. Teresa, a Rua da Adega, a Rua entre a Ponte da Guia e o acesso ao Cemitério da Vila.
O sobe e desce passeios e piso de estrada é perigoso, quando chove ainda se torna mais difícil. As pessoas do jogging nocturno mereciam que pelo menos houvesse passeio em todo o circuito citadino Escola da Freiria, S. Gonçalo, Rotunda da Feitosa, Ponte de Crasto. Nem sempre é recomendável ir para a ecovia.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Espaço é coisa que nos não falta, soubéssemos nós organizá-lo

Da feira do gado ou da feira das galinhas, aqui bem junto ao Largo de Camões, saíram vários craques da bola. Era aí o campo de treino privilegiado da mocidade de há uns trinta anos para trás. E espectadores não faltavam em cima dos paredões.
Ao fim da tarde, depois da escola, mas também já do trabalho de muitos, juntavam-se aí ao fim da tarde para uma peladinha, para queimar as últimas energias, para afinar os músculos, que não para ganhar apetite, que esse não faltaria.
Nos dias de hoje os carros tomaram conta daqueles espaços. Faltam na área da zona histórica um palco para alguma actividade física dos mais jovens. A energia é muitas, os jovens alimentam-se bem, de certo que em excesso e uma bola é sempre o atractivo maior para começar uma brincadeira, seja qual for o local.
Uns esperam que os pais fechem os estabelecimentos, outros pelos autocarros que os hão-de levar à aldeia, os jovens não podem simplesmente estar parados, hoje já não toleram tempos mortos, de simples contemplação da natureza.
Por sua vez a gestão do espaço urbano passa por criar pequenas zonas verdes, áreas de lazer, livres de carros, esplanadas ou outros equipamentos urbanos, para permitir uma fruição sem regras e sem constrangimentos do espaço.
Mas há espaços onde as regras terão que existir, não é possível coabitar gente a passar, esplanadas apinhadas e miúdos a dar chutos despropositados a bolas de futebol de onze. Neste jogo de interesses entre os vários utilizadores do espaço público é necessário intervir para satisfazer a todos.
Temos a maior sorte do mundo. Espaço é coisa que nos não falta, soubéssemos nós organizá-lo, dispusesse-nos os vários equipamentos convenientemente e teríamos todos algum reservado para as nossas actividades mais favoritas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Toda a vaidade e toda a inveja são marginais na história

Este afã de colocar tudo em livro, em audiovisual, até na Internet revela uma preocupação com uma mudança que está em curso e nos fará esquecer de todo um passado que devemos preservar, independentemente de ter sido bom ou mau.
O ideal seria que nós memorizássemos em suporte impessoal factos, modos de vida, afazeres, tudo aquilo que pudesse ser utilizado como tema de estudo no futuro. Garantir-se-ia um acesso fácil, imediato e generalizado. Tudo o resto se vai perder.
Era costume há uns anos fazer os maiores elogios às pessoas de memória brilhante que nos podiam dar indicações preciosas sobre os acontecimentos que tinham presenciado. Até se entendia como sábio aquele que era capaz de descrever com alguns pormenores algumas histórias do seu tempo.
Tudo tem o seu lugar. Mas as pessoas estão muito dependentes da sua perspectiva e a história de uma época é a história que integra a história de todos mesmo quando a história de muitos é marginal em relação ao eixo vital, ao fio condutor que fez com que o presente seja aquele que temos.
Quer dizer que, mesmo que eu não queira, eu também lá estou na história do meu tempo, marginal ou não em relação a toda a história dos meus contemporâneos. Quanto cada um de nós mais próximo se consegue colocar em relação àquele fio condutor que nos trouxe até aqui mais sábio será.
Toda a sabedoria reside em nunca desprezar o medo, o sacrifício, em perseguir mais de perto ou mais de longe aquele eixo vital, em conseguir transmitir aos novos a humildade de aceitarmos aquilo que o nosso esforço é capaz de obter, a luz que partilhamos e nos ilumina o caminho.
Tudo o que é superficial se esvairá um dia. Deixaremos de correr atrás da vaidade porque perceberemos que essa é a melhor maneira de nos afastarmos dos outros, sem benefícios efectivos. Deixaremos de ser impulsionados pela inveja porque essa nos cega e nos rouba a paz.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Será a melhor forma de encomendar um estudo?

Em Ponte de Lima nem tudo tem sido agricultura. Além de ser importante estudar esta sob um aspecto económico, que não só folclórico, seria também de estudar as outras actividades, mais ou menos relacionadas com esta e com alguma relevância no panorama limiano.
“Serração de madeiras, pedreiras, minas (volfrâmio, estanho, ouro), lagares de azeite, são as nossas indústrias mais tradicionais de cuja arqueologia se não houve falar”, escrevi algures. Bem mais de uma centena de moinhos de água restam em ruínas. Ferreiros e carpinteiros tradicionais desapareceram. Da actividade mineira só restam casas entretanto ardidas ou vandalizadas, minas de certo modo perigosas e mal protegidas.
Terá a Câmara Municipal acordado para esta problemática? O projecto Terra Rica da Humanidade preocupar-se-á com este aspecto do nosso passado? O pelouro da Cultura ter-se-á apercebido desta lacuna e abriu um concurso para que jovens licenciados quisessem fazer trabalhos sobre este tema?
Numa iniciativa desgarrada a Câmara resolveu encomendar um trabalho sobre as fábricas de serração de madeira e convidou uma jovem licenciada devidamente habilitada mas que por motivos profissionais não pôde aceitar o encargo. Porque é que a Câmara se cansou e desistiu desse caminho?
Ao primeiro “expert” que apareceu atribui 5 000 € para um trabalho cujo projecto, âmbito e estratégia se desconhecem. Como se não conhecem os seus contornos só por analogia se pode conceber como uma recolha de fotografias e audição de umas histórias avulsas e melodramáticas?
A Câmara Municipal tem patrocinado muitas publicações, mas diferente é quando se quer um estudo sério, sistemático, perceptível pelos destinatários e lhes faça algum proveito, que fique para a nossa memória colectiva, não uma simples recolha fotográfica ou um repositório de depoimentos desconexos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ver a árvore e a floresta, ver a floresta mas também a àrvore

Há pessoas que têm tendência para ver as coisas com mais minúcia e outras para ver de uma forma mais genérica. Outras ainda serão capazes de ver todas as coisas das duas maneiras, ver a árvore e a floresta, ver a floresta mas também a árvore.
Depois é uma questão de qual a sua capacidade de relativização e aí constatamos que para generalizar estamos nós todos prontos e para observar com minúcia já só estamos alguns. E aqui está a diferença entre ser responsável ou não.
Não é propriamente um defeito generalizarmos a partir dos sintomas mais negativos, ver tudo negro. Nós somos vítimas das circunstâncias de se não achar desonesto avaliar o estado de uma situação como negra, quando nela encontramos mais pontos positivos que negativos.
O contrário também é verdade: Generalizamos o que consideramos positivo, quando essa é a moda, porque realçamos os pontos positivos quando eles estão em minoria em relação aos negativos. A moda é tão só um movimento a que damos uma força excessiva. Quando se diz que Ponte de Lima está na moda não há nada mais a dizer. Mas conviria analisar os seus pontos marcantes.
A nossa aversão ao estudo, ao exame detalhado das coisas faz com que sejamos fracos na análise e pródigos na síntese repentina, judiciosa e condenatória ou laudatória. Como isto não depende de quaisquer sentimentos intrínsecos, perdoamos as pessoas, desculpabilizamos os efeitos.
Gente avisada seria mais comedida e não acreditaria tanto que, por termos a mesma emotividade, partilhamos os mesmos sentimentos ou repercutimos as nossas opiniões de forma imediata noutros. Os sentimentos aferem-se entre si e as opiniões comunicam-se sem querer levar as pessoas a tirarem quaisquer conclusões apressadas e defeituosas.
Não aceito que uns se arroguem o direito de espalhar o seu amor a Ponte de Lima como se os outros, todos os outros que se não apressem a apoiar e tenham uma visão diferente a não amassem. Uma nova visão de Ponte de Lima já foi divulgada neste Jornal e está em http://arquitecturaepontedelima.blogspot.com/.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O Galo de pé descalço ao poleiro!

Criou-se um mito, uma imagem idílica dum mundo rural em que as aves de capoeira esvoaçavam livremente nas eiras de quintas e casais comendo os bichinhos da terra, a segadura da erva e dos restos das couves do caldo, algum milho para desfastio e engordavam sem custos que se medissem de modo mercantil.
Em qualquer momento a patroa estava pronta a degolar um dos seus melhores bicos a mando do marido para receber alguém de modo mais festivo. O que como é evidente só acontecia por festas, não quando aparecesse algum pobretanas.
A verdade é que tão poética fartura sempre foi vista como um sinal de egoísmo de quem viveria bem integrado na natureza e se estava marimbando para que o frango fosse inacessível aos suburbanos. Tanta fartura não colmatou a fome e seria preciso o frango de aviário para conseguir debelar de vez um mal secular.
Uns, mais fatalistas, dirão que o mundo rural tem tendência a morrer agarrado aos seus próprios valores, empolando sempre o seu contributo para a economia geral e nunca pondo em causa o seu atraso tecnológico e organizacional. Na verdade a nossa lavoura mostra-se incapaz de se preparar para o futuro, de prever os golpes devastadores que periodicamente caem sobre si.
Com o frango de aviário, o frango de pé descalço ganhou valor pela qualidade e o que poderia ser o seu fim tornou-se um incentivo à revitalização. Só que o frango caseiro vinha de uma realidade não mercantil. Quando se foi a fazer contas e verificar a diferença entre produção intensiva e extensiva e a pagar os factores de produção apropriados, ficou a perder.
Para agravar a situação, as gerações que hoje mais consomem alimentos são precisamente as gerações do frango de aviário, preferem-no, rejeitam mesmo o pé descalço, muitos já o acham quase intragável. Mesmo sem A.S.A.E. o seu mercado já está em manifesto declínio. Que haveremos de fazer por esta altiva ave, mantendo-lhe as características, a consistência e o sabor?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Que a Festa se não faça só de décibeis e com a mesma canção

Poucos Santos conseguiram resistir ao apelo de Agosto e só as grandes romarias, como o Socorro, a Penêda, as Rosas ou as Feiras Novas, mais as festas aos três Santos de Junho, Sto António, S. João, S. Pedro, permaneceram no seu tempo, sem perder brilho, aliás. De Inverno resta-nos Sta Luzia, Sto Amaro e S. Braz, poucos mais, talvez porque sempre tiveram um mais acentuado cariz religioso.
Mas deixo ao nosso Exegeta Manuel Fernandes o cuidado de interpretar este fenómeno: Porque os Santos nos não trazem algum calor nestes meses de Inverno? Sem ser na Quaresma, vá lá, que isto entendo eu. Estamos, pois num período de acalmia que pode ser de reflexão. Toda a gente gosta de ter uma romaria à sua porta, um Santo protector, uma capela que lhe sirva de abrigo.
As características das festas mudaram radicalmente, nos lugares mais pequenos quiseram adoptar os padrões das festas mais centrais e concorridas. Na realidade isto levou a um encarecimento desmedido da realização das festas e romarias por todos os lugares do Alto Minho que tornou muitas insustentáveis.
A concorrência, pela concentração num curto período de tempo no ano, pelas mais variadas festas particulares, tem levado ao declínio de algumas, a dificuldades imensas, até à extinção. Impõe-se também aqui um esforço de imaginação para não deixar cair esse património, essa forma única de convívio, de juntar trazendo à terra gente que anda dispersa mas que mantém afinidades.
Já vai havendo consciência que os decibéis não são o remédio, que seria melhor caminhar no sentido das particularidades do que porem-nos todos a cantar a mesma canção. O espírito do lugar pode andar revoltado, não tem merecido o carinho que deveria ter dos habitantes, mas, se as pessoas procurarem, podem vir a realizar algo de mais espontâneo e natural que o modelo de festa que hoje impera.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Os opinadores modelares

Quando nos empenhamos numa “obra” sempre chega a altura de fazer um balanço e esta centésima bicada da garça é bem apropriada para isso.
Esta coluna de não jornalista não tem por intenção primeira revelar ao leitor factos novos, mas é utilizada para apresentar um acontecimento esquecido, uma opinião trivial sob um prisma diferente, até que sob o habitual não teria g®a®ça nenhuma.
Por pretensão só tenho a de, como voz, fazer parte da opinião pública, sem preencher esta ou aquela cota ou lacuna, mas com a certeza que esta ainda é uma forma digna e eficaz perante o falhanço de outras maneiras de intervenção cívica.
A maioria dos opinadores costumam adoptar modelos, posturas, opiniões e depois procuram os factos aos quais, na sua perspectiva, estes se podem aplicar. E vá de garatujar umas palavras mais ou menos bem escritas e aplicar-lhes aquela moldura e a sua credibilidade (que pensam ter).
As conclusões são sempre as mesmas e para não haver dúvidas colocam-se em primeiro lugar para não enganar o leitor. Não é esta a forma que eu adopto para escrever, porque é necessário ver o presente, mas ter consciência que nele existe muito de circunstancial, de efémero. Não formulo sentenças.
Acreditem que já tudo está dito mas a forma é que faz a diferença. E nessa forma inclui-se o léxico utilizado que permite classificar o tipo de prosa ou verso que vai sair: Grito, lamento, arroto, vómito, bisca, perdigoto. O meu léxico é outro.
Há aqueles que pensam ser uma escrita rebuscada para fugir a afrontar ninguém, a criticar opiniões alheias. Mas o poder ou se põe a jeito ou só tremerá quando houver uma opinião pública com força intelectual para opinar. Então tremerá.
É dos livros que os que detêm o poder o seguram bem e relativizam as opiniões alheias. As suas podem ser “patetices”, mas valem mais por serem de quem são. Não me cansarei de pregar as minhas, mas, sendo livre, não sou justiceiro.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Os pobres com e os pobres sem ... vergonha

Há pessoas que, com chorudas fortunas, que as poriam bem acima das remediadas, se escondem, mas inscrevem em tudo que é cabazes de Instituições de Caridade ou até de Organismos Públicos, simulando uma necessidade que não têm.
A Caridade tem de ser transparente para que quem a pratica o faça sem ter que estar sempre de pé atrás e para que quem a receba o faça com um sentimento de gratidão que sempre se deve ter para com as pessoas que, sem estarem obrigadas a isso, ajudam os outros com aquilo que é seu.
Antigamente os pobres conheciam-se, eram mesmo pobres, havia uma roupa de pobre, um comportamento de pobre e infelizmente os cães ladravam mais aos pobres que aos ricos, havia mesmo um cheiro a pobre. Mas, como quase todos só usufruíam de um simples remedeio, a caridade era difícil.
Hoje posso crer que, se não há mais dádiva, não é por falta de meios mas porque todos temos um sentimento de que há muita falsidade, muito descaminho, muito aproveitamento, muita figura feita para a esmola. Também falta a relação directa entre quem dá e quem recebe, que tudo hoje é intermediado por organizações.
Conta-se em Ponte de Lima que há uma menina de meia-idade, rica herdeira, solteira e bem formada, boa rapariga, não duvido, e que até quereria casar, mas que não tem vergonha em certas ocasiões de passar por pobre. Só não digo quem é para não a atrapalhar com pretendentes, que isto de herdeiras ricas, virgoleiras e casadoiras vai cá uma crise.
Quem é pobre não devia pedir às escondidas, que será eventualmente vergonha ser pobre toda a vida, mas não o é decerto ser pobre em certas circunstâncias. Ninguém gosta de comentários e reservas, de ser apontado de pobre toda a vida.
Hoje até há pobres porque há pessoas que devem muito aos Bancos, embora tenham os seus bens. Devia haver mais clareza em todas as instituições, listas dos tais pobres que quem não deve não teme e a vergonha pública é boa conselheira.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Como resocializar a marginalidade

Não faltam pessoas a dizer mal, como não faltam as que digam bem doutros crimes, conforme as exigências próprias. Minoram as opiniões que contribuam para não meter tudo no mesmo saco, mas também para não desculpabilizar alguns marginais legalizados.
Quando alguém acusa outros de haver actos de vandalismo, não raro recebe como resposta que, se vermos bem a coisa, não é tanto assim, até somos uma vila, um país pacífico. É uma solução que o não é, é dizer que com o mal dos outros os que não são por ele atingidos podem bem. E os actos vão acontecendo.
Todo o vandalismo, inclusive o pequeno, deve ser combatido porque é indesculpável. O medo e a exemplaridade das sanções são a única forma de obstar à propagação do espírito de imitação.
O pequeno delito pode ser uma experiência feita por um “potencial” criminoso para testar a sua própria força espiritual. Mesmo sem qualquer inclinação prévia o sucesso de um delito prepara emocionalmente o praticante para um mais grave. Relaxa a exigência que todos fazemos a nós próprios de sermos dignos.
Criou-se a ideia bizarra que o pior maldizente, o delinquente é um espírito fraco que não resiste a uma tentação qualquer. Na realidade ele sabe que está a desrespeitar normas de convívio social indispensáveis e a fraquejar em face das exigências feitas.
Mas ele também se fortalece porque desta maneira assegura o “direito” de ser rico, a ser “respeitado”, de pertencer a um grupo de cultura contestatária e a socializar-se por essa via esconsa. Todos se conformam a que os marginais façam parte igual da sociedade.
A resocialização seria um processo de desvinculação e reorganização de estruturais mentais, um repensar do relaxamento humano que ajude a canalizar e reagrupar as forças pessoais para vencer as dificuldades que a sociedade cria a todos.
Tudo nos serve para julgar as pessoas e a sociedade, mas falta-nos a força moral para exigir aos outros um acto de vontade que vá mais fundo, às razões da nossa existência e que não exigimos a nós próprios.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A sexualidade e a natalidade, de indutores a incompatíveis

Reduzir a sexualidade a um factor determinante para a procriação já hoje está posto de parte nas sociedades mais desenvolvidas. Hoje até constituirá um factor negativo que leva mulheres e homens ou os dois a rejeitarem os nascimentos com o fito de desenvolver uma sexualidade mais sofisticada.
Nos países menos desenvolvidos ou nos guetos sociais essa ligação primária é fonte de mais miséria, muito sofrimento e de morte. Numa fase mais atrasada da humanidade a sexualidade era efectivamente o estímulo que levava à reprodução da espécie. Mas a libertação dessa ligação é um avanço que deve ser reconhecido.
Hoje, numa fase mais adiantada da civilização, a procriação está condicionada por factores económicos ou provoca efeitos económicos seja qual for o prisma pelo qual se veja. Embora outros factores possam intervir, são estes os principais que o casal tem em consideração para avançar com a procriação.
A procriação é no geral considerada um sinal de esperança e altruísmo pelo que, quando um casal não acorda nela, é porque há desconfiança e egoísmo. Ambos, mulher ou homem, ou os dois recusam-se porque um ou os dois fazem contas e a discussão acaba por se reduzir a haver ou não condições económicas.
Esta é a ideia geral mas a maioria das pessoas não chega aí. Fica por outro tipo de condições, pelos hábitos de vida adquiridos, pela gestão do tempo para não frustrar outros objectivos, pelo sentimento irremediável de perca, pelo temor de que um passado que custou tanto a passar possa voltar a ser o futuro dos filhos.
É muito o tempo, até perto dos trinta anos ou até mais, que a mulher (e o homem) passam potencialmente férteis, com condições para realizar a sexualidade mas não a natalidade. Por isso para obstar à tão fraca taxa de nascimentos hoje existente tem que haver uma preparação psicológica para que aos trinta anos, quando já tiverem algumas condições, os jovens não estejam já tão descrentes na virtude natalícia.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Não te envergonhes, mesmo tendo receio, de seres alegre...de dia

A alegria não é sentimento que ande para aí espalhado como mercadoria sem valor. Todos já tivemos momentos em que queremos levar tudo à séria, deita-se a alegria para trás da costas, que a tristeza ajuda-nos a enfrentar melhor a vida, até a dar mais valor aos momentos de júbilo, de congratulação. Mas abusamos.
E não me venham falar de crise. Dizem que é a ela que devemos o facto de não fazermos meninos, de não brincarmos com os que vão escapando. Não fora a maldita crise e andaríamos por aí aos pinotes, plenos de euforia, até parece.
Mas os países desenvolvidos do Norte já há muito que sofrem dos mesmos males e, com tanto progresso e riqueza, não têm eles deixado de lhes bater à porta. E como nós temos por hábito baralhar tudo, até temos uma ideia que quem tudo baralha é porque é sério, seria bom analisar melhor esta questão.
Uma postura mais comedida, sem ser patética, seria possível se emprestássemos aos nossos actos um pouco mais de alegria, sentimento que contagia, desinibe e estimula. Que o digam aqueles que procuram a noite como mundo apropriado para viver, talvez porque se sentem envergonhados de serem alegres de dia. Para eles a crise até só existe de dia.
Há quem diga que ninguém consegue ser alegre de dia, que o ambiente de dia é demasiado negro, ao passo que o da noite é festivo, mesmo esfuziante. A noite não exige esforço para se ser alegre, não há muralhas, há confraternização, há tão só códigos de linguagem e conduta que todos entendem.O dia não é mais que uma série de sombras, de armadilhas, de sustos e arrepios. Nesta sociedade cinzenta só um louco anda com a cara sorridente de dia. E quando interpelado tem que dizer que é por ter visto um homem a morder um cão, porque é proibido ser alegre, assim só… alegre… como uma garça (leia-se passarinho).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Falta uma música ambiente que nos anime

Alguém me disse que melhor seria a música que tem constituído o ambiente sonoro das manhãs e tardes limianas ser a do Quim Barreiros, da Maria Celeste e do Marinho. Não vou tão longe.
Se o objectivo é criar o ambiente propício para o Natal, não haveria necessidade de música tão suave e intimista como aquele que se ouve para lembrar a aproximação de uma festa já de si aconchegadora e familiar.
É gratificante qualquer apelo à família que foi e deve continuar a ser o nosso mais importante centro de interesse. À sua volta reúnem-se novos e velhos com diferente empenho em manter laços, relações, simples afinidades sempre importantes para o nosso sistema referencial. Mas o Natal é uma oportunidade única.
Este encontro familiar, cujo carácter não é apenas simbólico, tem sobrevivido a muito artificialismo e corre o risco de ser submergido pelo valor de troca das prendas e por outras manifestações frívolas do universo mercantil. No entanto não vem mal ao mundo que se anime a rua e dinamize o comércio.
A família, mesmo sem as características doutros tempos, mantém o privilégio de constituir um alicerce para edificar a vida. Cabe à família não se deixar enredar por invejas e vaidades. Uma família está unida se todos compreenderem as dificuldades de uns perante a sorte que bafeja outros.
O Natal não se pode transformar num momento artificial, social somente, uma feira em que as vaidades se trazem até à família. Mas também não pode ser um altar de lamentações, de renúncias, de mortificações. Não há razões para viver o Natal escondido.
Uma boa música é uma maneira de ajudar a criar um ambiente salutar, de confiança no futuro, na transmissão familiar, no nascimento. O estereotipo da música de Natal tem mais a ver com o clima que normalmente se faz nesta altura do que com os sentimentos que se partilham nesta ocasião. O Natal de hoje necessita de música mais quente e apelativa.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Muito consumo, pouca consciência

Aproxima-se uma época de muito consumo e pouca consciência. Vivi a fase mais marcante da minha vida rodeado de entidades a fazer a apologia do uso parcimonioso do dinheiro, quando eu, como a maioria de nós, o não tínhamos. Por este indecoro é que nós não ligamos a essas recomendações.
Referia-me em particular às vozes outrora poderosas porque partilhavam de vários poderes, eficazes porque tinham uma repercussão profunda na maneira como a vida era vista pela grande maioria, com autoridade indiscutível pela infalibilidade que a partilha do sagrado lhe dava, e que hoje estão caladas.
Para as mentes daquele tempo o que hoje se passa é um escândalo. É no Natal que o dinheiro mais se esvai. Dir-se-á que é bom, que a economia floresce, que o dinheiro circula, incentiva e cria emprego. Fora o carácter supérfluo que algum deste consumo tem, está tudo bem quando é do nosso agrado.
De resto estou convencido que a maioria do consumo se refere a artigos necessários que poderiam ser comprados em qualquer outra ocasião e que só o são agora por haver mais disponibilidade. Em termos económicos só se poderá por em causa mesmo os produtos que têm proveniências exteriores ao nosso mercado.
Também de nada valeriam as retóricas morais que hoje já não teriam qualquer efeito. É mais salutar ter sentimentos contraditórios do que alimentar sentimentos arreigados. Por isso se é contra e se não é ao mesmo tempo. Por isso se dá prendas ao desbarato para se não ferir susceptibilidades. Por isso se alimenta o superficial em vez de partilhar qualquer sentimento mais profundo.
Mas se vai aumentar o consumo que aumente a consciência. Associemo-nos à campanha antecipada de prevenção rodoviária e ao apelo para que se atenue a mortandade que paira nas estradas. Que se gaste o dinheiro que aprouver mas que se seja comedido na estrada. Que se não gaste displicentemente a própria vida e a dos outros. È a melhor prenda de Natal.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Contra o ruralismo, a artificialidade, a submissão

O progresso provoca alteração dos ritmos, mas estes, só por si, estão longe de ser sinónimos de desenvolvimento. Muitas pessoas adquiram ritmos que nada têm a ver com a sua vida, andam sempre apressados à procura do nada.
Isto será uma “doença”. Como o é estar sempre apático, não alterarmos o comportamento perante qualquer sinal de emergência nossa ou alheia. Diferente será agir com frieza, o que pode ser habituação e profissionalismo e não indiferença.
Entre dois modos de ser tão extremados há muitos outros, mais ou menos louváveis, mais ou menos criticáveis, humanos como houverem de ser. Por aqui não há nada a dizer. Não podemos é defender ritmos de vida ultrapassados ou contribuir para a introdução doutros menos apropriados.
Quando falamos em ruralidade ou urbanidade associamos erradamente estes conceitos a outros que se referem a defeitos ou qualidades circunstanciais. Tudo se quer no seu lugar porque nada mais prejudicial a um dado ambiente do que o artificialidade. Não é baseado em factos isolados que diremos que há isto ou aquilo.
Tudo evolui e qualquer imposição é nefasta. A ruralidade subsiste em Ponte de Lima e até é defensável, se for do agrado de quem nela vive. Mas será abominável se promovida a ruralismo por quem acha que pode tirar partido dele, como realidade imutável.
A urbanidade é defensável e deve ser mesmo promovida como forma de contacto e convívio entre as pessoas. Mas é abominável quando esconde a introdução de comportamentos pretensamente evoluídos ou incomportáveis por demasiado sofisticados.
O maior problema nesta questão é que o maior transmissor de novas maneiras de proceder é a televisão, que o faz com muita superficialidade e artificialismo e que introduz, como comportamentos tipo, modismos e novidades passageiras que deixam rastos perniciosos. Cada um deve fazer o seu caminho, sem renegar o meio em que vive, mas sem se submeter a ele.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Se não se é apanhado pela boca, é-se apanhado por baixo da barriga

Em Ponte de Lima o preço da água consumida é escalonado e altamente progressivo. A relação é quase de 1 para 4. Para quem consumir muito água por mês, a que ultrapassar os 25 m3 é paga a 1,39 €, contra os 0,33 € que todos pagam pelos primeiros 5 m3.
Foi agora introduzido o pagamento do tratamento das águas residuais por indexação ao consumo de água. Utilizaram o mesmo escalonamento quantitativo para preços diferentes e submetidos a critérios diferentes de progressão de valores.
Para as águas residuais a relação é somente de 1 para 1,75. O seu tratamento no excedente aos 25 m3 é pago a 0,72 €, cerca de metade do custo da água respectiva, ao passo que os primeiros 5 m3 já são pagos a 0,41 €, mas superior em 25 % à respectiva água.
Em boa política social quem muito consome deveria pagar os custos da operação dos equipamentos e quem se limita aos consumos mínimos deveria pagar somente uma parte dos custos totais, podendo-se adoptar como critério os custos variáveis.
Dando de barato que assim possa ser, embora se não perceba tanta diferença nos critérios de progressão, a questão assume aspectos caricatos. Todos são convidados a consumir pouca água mas quem o faça paga pelo seu tratamento 125% do seu preço e quem o não faça só paga pelo seu tratamento 50%.
Há quem arranje explicação para tudo. Uns dirão que quem pouca água consome o fará preferencialmente para se lavar e se alimentar e a devolve na totalidade e bem suja à rede de esgotos. Os que consomem muita gastá-la-ão para fins menos conspurcantes e só devolverão uma pequena parte.
Outros dirão que o esgoto do quem consome pouca água é mais denso, bem sujinho como convém. Por exemplo consegue tirar o lixo do corpo com menos água. Já quem não liga à quantidade envia para o esgoto um resíduo mais diluído, deixa correr a água à larga.Não se pode ser pobre. Se não se é apanhado pela boca, é-se apanhado por baixo da barriga.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A nossa defesa está na frágil atmosfera

Para nossa sorte a Terra ainda não saiu da sua órbita e continua a rodar sobre si mesma num movimento que, à nossa dimensão, é perpétuo. Mas, se o Sol, por efeito da conjunção desses factos, continua a baixar no Outono, o calor do Verão não nos quer largar.
As alterações que estamos a sentir não tem pois a radicalidade que teriam se houvesse uma mudança naqueles parâmetros, mas já são suficientes para pensarmos que algo de menos esperado está a acontecer e que muito pior pode estar para vir.
Nós não estamos preparados para tal mutação mas parece que o estará muito menos o coberto vegetal, mesmo as árvores. Tudo e todos estamos a sofrer as consequências da nossa leviandade.
A irresponsabilidade é dos que da economia fazem uma arma da sua ganância e de luta. A insensatez é dos que querem viver no mais imediato e aparente bem-estar, sem cuidar de saber como, nem à custa do quê e de quem.
Comprometemos o futuro de tudo e de todos com as nossas desmedidas ambições, a nossa suprema inveja de beneficiarmos de todas as conquistas científicas e tecnológicas que não estaria nos desígnios do Universo virem a cair na posse de seres tão perversos como os humanos.
Para sobreviver não temos que regressar à idade da pedra mas temos decerto de fazer concessões ao realismo em detrimento da nossa ânsia de avançar às cegas num caminho cheio de armadilhas. Em particular a ciência tem que ter em conta a irreversibilidade ou não de todos os processos de fabrico.
Tudo se desmoronará se não protegermos o nosso escudo atmosférico. Aquilo a que nunca demos importância, o ar, porque o julgávamos imenso, necessita de ser tratado com delicadeza para lhe não retirarmos as propriedades que a sua composição permitiu que nós chegássemos até hoje sem grandes sobressaltos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quem preserva a velha aldeia na sua dimensão humana?

Sendo das aves que passa bastante tempo no Largo de Camões, no intervalo dos seus afazeres piscícolas nas mansas águas do Lima, facilmente a garça seria levado a ver o concelho de Ponte de Lima por esse óculo estreito.
Na realidade ela não me transmite esse mal que afecta tantos. A pé, de bicicleta, agora de carro, sempre fez as minhas incursões ao campo, à aldeia. Sempre encontrei aldeões, homens que gostam da sua terra, que adequaram o seu modo de viver e de ser à realidade local, que estão prontos a partilhar com os vilões uns momentos de conversa, de aprendizagem mútua, de convívio.
Quando há festa todos são bem recebidos, seja num bosque, no alto dum monte, nas margens duma ribeira. A festa acontece, a conversa também, ninguém viola o estado de espírito do outro, quem não vive no lugar respeita quem se sente bem integrado num meio que durante séculos foi quase imutável, mas criam-se laços..
Sabemos quanto a terra nos tem fugido debaixo dos pés, quanto as coisas tem mudado, quanta desertificação ocorreu, quanto novos afazeres mais lucrativos fizeram desviar a gente, quanta técnica inovadora contribuiu para o abandono dos antigos ritmos e práticas!
A aldeia perdeu o velho espírito aldeão, é invadida por citadinos que se isolam, vivem lá uns dias mas num mundo aparte, não criam laços de vivência, de cumplicidade, muito menos de amizade. Não se vive com humildade e o espírito do lugar não é respeitado pela arrogância, pela ostentação de um poder aqui sem cabimento.
Ninguém é dono exclusivo dum lugar, dum modo de vida, dum passado. Mas esses inocentes que tentam reinventar paraísos que, é suposto, tenham perdido, antes deviam comprar terras e construir eles os seus lugares, as suas aldeias, e aí nada havia a opor.
São os vilões, mas principalmente os citadinos, que os demandam, invadem, mas não se integram nos lugares existentes, desvirtuam a arquitectura, diluem as suas especificidades, pulverizam e fazem evaporar o seu particular espírito convivencial.E quanto ao seu contributo para a actividade económica local: até o arroz e os jornais trazem na mala do carro. Quantos lêem o A.M.?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A cultura como arma de arremesso ou forma de estar e interrogar

Uma conversa de base cultural é louvável. A conversa sobre a cultura não leva a lado nenhum. Primeiro porque cada qual, mesmo sem a utilizar em conversa, terá as suas razões para se convencer que a possui em quantidade suficiente para dar e vender.
Depois porque, se há um entendimento generalizado sobre o que é isso de cultura, não há uma abertura cultural que permita que os seus agentes vejam para além do umbigo. Os “homens de cultura” aceitam quaisquer conceitos que lhes sirvam, sem grandes contestações e sem necessidade de grandes interrogações.
Estas, derivadas imediatas das dúvidas, ficam para os filósofos. Quando nem saem da perspectiva da dúvida, ficam para os religiosos, que se martirizam para aplacar as suas. O dito “homem de cultura” não navega nas águas dos filósofos, que pôr o espírito a trabalhar é algo cansativo e de resultados imprevisíveis. Nem nas do religioso, a não ser por ingénua impostura.
Precisa de manter incólume o seu casulo e constrói justificações para êxitos e fracassos. Os amigos encarregar-se-ão do resto, de pôr as trombetas a tocar a favor de quem tão sabiamente percorreu solitários caminhos que o levaram a ter uma auréola inatacável.
Pelas citações que faz, procura só o que possa avalizar a sua postura perante a vida, o homem e o mundo. Armazena muita fraseologia, que a há para todos os gostos, mas, como só procura bodes expiatórios para os seus males, não vai dar quaisquer contributos à sabedoria universal.
Todos aprendemos a não nos deixarmos enganar, que, para construir o nosso caminho, a melhor solução é armadilhar o caminho dos outros. Poucos o não fazem. Quem não privilegia as suas amizades e cumplicidades, mesmo sabendo que é intelectualmente desonesto? Estas coisas são das primeiras que se aprendem.
É a certeza de que há mais do que esta “cultura”, que nos leva a entrar nesta conversa sobre cultura. A falsidade, a duplicidade pessoal, o clubismo não farão sozinhos o seu caminho. Toda a “cultura” que suporta a mais sórdida aleivosia só pode ser de quem se fecha em si próprio e vive de fantasias.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Um bom exemplo para alargar horizontes

À falta de outra utilidade, o Parque Industrial da Gemieira virou local de feira e festa do artesanato e das colheitas. Se pensam que vou criticar desenganem-se: é uma boa iniciativa e tomara qualquer outra freguesia ter um espaço assim para promover as suas actividades, a cargo como é moda de associações culturais.
Aliás aquela ocorrência, não vá descambar para mais uma feira de trapos e sapatos, não desvirtuou o espaço e até leva a que muita gente, que doutra maneira lá não iria, poder ver as possibilidades e o estado lastimável em que vai ficando por falta de ocupação. Nos jardins de uma fábrica que nunca arrancou em vez de flores há mato.
A este parque falta ocupação, mas o que falta em muitas aldeias deste concelho centralista não são mais parques industriais, o que seria insensato, mas espaços desafogados da natureza dos seus arruamentos que permitam realizações festivas, mas não só, sejam locais que possam polarizar muitas iniciativas e constituir o embrião de um centro cívico.
Na maioria do concelho praticamente nada foi feito desde os velhos largos de Freixo e de S. Martinho, este o único com um novo anexo. Até em Refoios, com um pólo universitário, o que existe está atrofiado. Mesmo Arcoselo, hoje Vila tão perto da sua madrasta é um labirinto que não abre horizontes, nem promove o progresso.
Em todo o concelho só encontramos quelhas, ruelas e quingostas, caminhos atrofiados por valados, silvados e muros a cair. A única preocupação por esse concelho além foi asfaltar o caminho para a casa de cada um, colocar um poste de iluminação à porta, nem que a caixa do correio fique no adro da Igreja.
Não é possível por uma auto-estrada à porta de cada um, nem as pessoas querem. Mas é imperioso rasgar, alargar, não estar preso a interesses mesquinhos, imediatos, que as pessoas só lentamente se vão apercebendo da importância, da valorização que se consegue com bons acessos. Já vamos estando longe dos tempos em que as pessoas morriam só por saber que iam ficar privadas de um metro de terra, nem que ele fosse pago a peso de ouro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Em vez de barreira um acesso

A Câmara Municipal de Ponte de Lima colocou como hipótese a instalação de uma barreira de pedra no paredão que suporta o Largo de Camões e o Largo da Feira, destinada a proporcionar maior segurança a quem por ali passeia.
O paredão é uma construção com setenta e tal anos que se destinou a criar aqueles largos a um nível a que as cheias do rio só esporadicamente chegariam. Para isso foi necessário soterrar o 1º andar dos edifícios.
Esta solução não seria adoptada no Passeio Marginal, tendo sido construída uma rampa em frente à Caixa Geral de Depósitos de hoje para fazer a ligação com a parte que subiu. Também dois arcos da ponte medieval foram soterrados.
Qualquer alteração que agora se pretenda fazer deve ter em consideração a situação anterior e de qualquer maneira caminhar no sentido da sua possível reposição. Tudo seria fácil se aquela passagem sobre estes dois arcos da ponte não fosse a única entre as duas partes da Vila.
Uma maneira de aligeirar o impacto visual daquele paredão para quem vem de Além da Ponte era construir em sua substituição uma rampa/escadaria que permitiria um acesso fácil ao rio e resolveria os problemas de segurança que hoje existem.
Além disto esta solução desanuviaria a paisagem para quem está a um nível superior, permitiria que, retirando também o estacionamento como se pretende, das esplanadas do Largo de Camões se visualizasse a outra margem do rio, que não ele próprio.
Desde que o Passeio Marginal está a um nível inferior e àquela frente da Vila não se pode regatear a beleza, porque não fazer uma transição mais suave entre as praças laterais à ponte e o areal, maugrado faltar a estruturação deste?
Não sendo para trânsito não se justifica uma rampa, antes uma escadaria que permitiria a criação de uma espécie de anfiteatro, vantajoso para muitos dos espectáculos que naquela zona é costume serem feitos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Sem vinho de que nos serve agora a terra?

As vindimas atingiram o auge esta semana. A actividade em que se inserem, a agricultura, está em nítido declínio. A pequena produção deste ano que seria há uns anos uma catástrofe passa hoje quase despercebida e é entendida como a possível tábua de salvação daqueles que persistem em que lhe atribuir algum valor.
Efectivamente espera-se um resultado de tal modo negativo da produção vinícola do verde, que aqueles que por sorte ou arte tiverem uma produção satisfatória verão os seus rendimentos subir de forma que se tornará compensatória.
O sector estava à espera de uma certa racionalização, mas esta maneira tão brutal de intervenção trará mais problemas do que aqueles que resolve, se é que resolve algum dos principais. Só uma profunda reformulação da vinha, com o corte da vinha em zonas impróprias e uma cuidadosa selecção de castas resolverá o problema de fundo: o excesso de produção e a falta de qualidade.
Com o regime de propriedade prevalecente na região do vinho verde, reconheça-se vantajoso porque faculta a quase toda a gente o acesso a ela, para que as pessoas desistam de produzir vinho sem qualidade só com a alteração dos hábitos de consumo próprios e pelas novas exigências da clientela disponível.
Com a diminuição do consumo de vinho que mesmo nos meios rurais passou de elemento importante da alimentação para acompanhamento perfeitamente substituível, muita gente passou a pensar ser razoável não ter uma produção própria e comprar vinhos comercializados para melhor satisfazer o seu gosto.
No fundo esta mudança insere-se numa séria de mudanças que se vêm operando nos últimos trinta anos e têm contribuído para alterar hábitos, economias domésticas, paisagens. A vinha será uma das últimas resistências que, ao se desmoronarem, alterarão a nossa ligação à terra e a nossa maneira de ver o mundo.
Para o bem e para o mal. Ou, se relativizarmos as coisas, para uma diferente inserção do homem destas paragens no mundo.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Porquê tanta pedra, porquê?

Entre a entrada da ponte medieval e a Casa Melo, com as suas revista e jornais, jazem quatro pedregulhos devidamente trabalhados, presumo que à espera que a nossa opinião pública se prenuncie sobre o seu efeito estético e de segurança naquele passeio marginal, nosso miradouro para o mundo.
Claro que gostar gostava de um gradeamento em ferro, suportado por pedras à maneira do que está feito no mercado, de modo a diminuir o impacto visual. Mas como a Câmara é “pobre” e esta solução à base de granito se insere noutras opções igualmente pesadas e é mais barata, pronunciemo-nos.
Estão lá pedras de dois formatos diferentes, um mais pesado que outro. Um dos modelos é constituído por blocos 80x40x50 cm, suficientemente fortes para suster as arremetidas de qualquer vaca das cordas, mas inestéticas quanto baste.
O outro dos modelos é em corte transversal um losango com uma base maior de 80 cm e uma menor de 65 cm e com a mesma largura de 40 cm. Cada bloco mantém a mesma altura de 50 cm, pelo que o seu peso é menor, e o seu efeito é esteticamente menos agressivo.
Mas o segundo modelo poderia ser melhorado se a sua largura fosse reduzida para 30 cm, fosse colocado a facear o parte exterior do muro, não permitindo malabarismos no espaço que sobra do parapeito agora existente. Isto faria ainda que no seu interior sobrassem 35 cm para passeio ou porque não para assento.
Já os próprios blocos não deveriam servir para este efeito pelo que, e até para compensar a diminuição de peso, por efeito da menor largura, poderiam ter mais altura, talvez 60 cm, para os tornar mais inacessíveis e ninguém se vá neles sentar.
Formariam assim uma barreira ainda mais alta, mas não serão também um obstáculo as pessoas que lá se vão sentar em cima dos propostos 50 cm? Bem, bem ficava como está, mas são respeitáveis os temores de quem não se sente seguro ao ali passar, em especial com filhos pequenos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A publicidade, o desleixo e a fome nas Feiras Novas

Acabadas as Feiras Novas há que fazer um balanço, ponto a ponto que, balanços globais, aparentemente mais apropriados, também não deixam de ser feitos partindo de uma perspectiva particular, a que se dá mais realce.
Gostei do desfile taurófilo. Posso mesmo dizer que me surpreendeu a qualidade dos carros alegóricos. Mas como o não queria só para mim, teve de criticável acabar muito cedo, quando alguns ainda estariam a almoçar e muitos não tinham chegado.
Teria sido apropriado um outro trajecto que permitisse levar toureiros, forcados e bandarilheiros à praça de touros e o desfile se pudesse prolongar por mais tempo de modo a ser visível por mais gente. Não é nossa tradição fazer cortejos tão cedo.
O cortejo etnográfico perde qualidade de ano para ano, correndo o risco de se tornar um desfile publicitário, misturando coisas tão díspares como jogadores de futebol, de golfe e do pau. Eu sei quem merecia levar uma paulada.
Teve coisas quase perfeitas, é certo, como o malhar do centeio ou do feijão, com os figurantes vestidos quase a rigor. Será sempre de realçar a disponibilidade para desfilar em fato de folclore ou de qualquer forma apeada que grupos sentados em anfiteatros montados em camionetas não são o mais correcto.
Um estanca rios estava um brinco e os velhos moleiros estavam um brincão. Mas temos que pôr mais esmero num cortejo, ocupando a hora nobre e por estar copiado por tudo que é festa e romaria, se tem que realçar pela excelência. Aquilo que suscita uns risos leves não chega para fazer a festa.
Têm se ser chamado a colaborar o sector da restauração, que por mais razões de queixa que tenha dos despropósitos da clientela, dos excessos cometidos, da falta de pessoal para o trabalho, do custo da higiene, tem algumas mas não todas as desculpas para fechar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Espaço de festa e espaço de feira

O ciclo das festas está a chegar ao fim e as Feiras Novas são o ponto mais alto, o simultâneo culminar e coroar de cada fase anual.
Por isto se compreende o afluxo desmesurado de pessoas para ajudar à festa, para participar na feira. Espera-se depois a enchente de gente que há-de dar sentido a todo este aparato.
É bom que usufruamos da festa com toda a inocência de que sejamos capazes. Isto é, sem levar em conta os possíveis efeitos nefastos que um acontecimento destes possa comportar, sem sentimentos de culpa de qualquer espécie.
Mas é bom que se vejam e se não ignorem os muitos interesses em jogo, a quantidade de indivíduos que vêm a festa essencialmente pelo seu lado económico e que na sua avidez podem contribuir para a estragar.
Cada vez mais quem organiza a festa é chamado a ter uma intervenção que lhe retira muita da espontaneidade. Assim se perde muito do carácter genuíno de vários dos componentes da festa.
Mas a realidade é que estas Feiras Novas que agora temos já são em muitos aspectos uma festa nova. Em primeiro lugar pela sua dimensão. As Feiras Novas de hoje não têm neste aspecto nada a ver com as festas de há cinquenta anos.
A verdade é que o espaço, outrora suficiente, quase permitindo uma auto-organização, é agora manifestamente diminuta para tanto pretendente a participar na festa e na feira.
Conciliar festa e feira é o grande desafio para quem dirige este evento. Se a festa apoia a feira e a feira apoia a festa, não as podemos separar, mas temos de ir retirando uma certa promiscuidade que nos faz esquecer o interesse maior que é a festa.
O problema coloca-se na primazia a dar a cada aspecto da questão, na distribuição no espaço. A vontade dos comerciantes é colocar os seus produtos no melhor sítio, que é à frente dos olhos de quem passeia. Mas para passear é necessário que nos deixem.
Corre-se o risco de as pessoas ficarem sem espaço para fazer a sua própria festa.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Garça vítima de bárbara agressão

Foi o Rio Lima que fez de Ponte de Lima aquilo que hoje é. Quase podemos dizer que, depois desta bênção, tudo o que podemos fazer é estragar. Quando a intervenção humana era limitadíssima o Rio era de uma beleza incomparável.
Perdoa-se-nos a Ponte, uma barreira para o Rio, um miradouro privilegiado para a limpidez da água, para o espectáculo dos variados peixes que abundavam, das sazonais lampreias, sáveis, tainhas e até salmões. Da água às margens as brancas areias.
Houve obras inevitáveis, outras talvez não, mas cá e na Espanha os interesses económicos falaram mais alto que as suas naturais consequências na ecologia e na estética do vale. A barragem de “Las Conchas”, inaugurada no longínquo ano de 1949, cortou pela primeira vez o Rio. Secaram-se pântanos e lagoas de “Antelas” na grande planície de “Ginzo de Límia”
Mais recentemente as barragens de Lindoso e Touvedo alteraram significativamente os caudais do Rio, em muitas situações para melhor, porque o tornaram menos agressivo no Inverno e mais bondoso no Verão, mas com inevitáveis efeitos negativos. Há menos arrastamento de inertes, menos fertilização dos campos marginais.
O grande crime terá sido a extracção desenfreada de areia com fortes arrastões que abriram perigosos poços onde não poucas pessoas morreram. As alterações no curso da água, a formação de ilhas, o estreitar das margens, deram origem a uma vegetação invasiva inexistente outrora.
Hoje com estranhas desculpas, querendo apresentar como natural aquilo que o não é, quando já vai sendo possível repor a antiga situação, evita-se qualquer reparação dos estragos que o homem foi acumulando. Onde deveria ressurgir a areia fina plantam-se carros, fazem-se fogueiras, acampa-se livremente.Nada é imutável, mas quem ama o Rio quer que ele volte ao antigo esplendor. Dizia há duas semanas: Se a garça se não põe a pau ainda a metem no churrasco. Parte disso já se confirmou: Estes dias os caçadores deram-lhe um tiro e partiram-lhe uma asa.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A selva de S. Gonçalo

Há um fenómeno que se desenvolve há poucos anos em Ponte de Lima mas que está suficientemente estudado há muito. Refiro-me ao pousio social a que invariavelmente são submetidos os terrenos agrícolas que se querem converter em zona de construção.
Durante séculos a Vila de Ponte de Lima esteve confinada às suas muralhas, só subiu temerosamente a Avenida António Feijó no começo do séc. XX e só se expandiu do mesmo jeito para a Graciosa no pós 25 de Abril. Mesmo do lado de Além da Ponte esteve sempre limitada a duas ruas.
Só nas duas últimas décadas se deu a expansão, nem sempre bem norteada, a que continuamos a assistir. Normalmente enquanto se não constrói os terrenos são deixados ao abandono para desafectação da área ao serviço agrícola e para aguardar a valorização que a viabilidade da construção implica.
Por vezes criam-se impasses, tudo dependendo muitas dessas vezes das pessoas envolvidas, dos interesses em jogo. Os terrenos de S. Gonçalo, no pós 25 de Abril reservados a zona industrial, são agora, e bem, área a edificar. O seu valor é imenso.
Os interesse em jogo são elevados e entretanto deixou-se crescer os silvados e as cobras que não desvalorizam os terrenos. O que podia ser uma zona minimamente estruturada que desse beleza à paisagem é um depósito de sucatas, lixos e dejectos. Como muitos mealheiros quanto mais sujo melhor.
No meio daquela imundice está o S. Gonçalo, cuja credibilidade se desvanece. Até os namorados já lá não vão com medo do isolamento do local. Mesmo assim ainda é o oásis que resta cercado pela agressividade de quem só antevê o quanto aquilo vai render.
Lugar com uma exposição privilegiada em relação ao rio e ao sol, seria a zona mais nobre de Ponte de Lima para quem tivesse veleidades de fazer um projecto de qualidade e com futuro. Mas porque vale muito, porque é um valor garantido, é que está como está, à espera da oportunidade de ouro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

No Rio corre a nossa alma

A altiva garça está exausta e teme já nada conseguir fazer para defender o seu rio. Antes desta invasão maciça de patos bravos até lhe chamavam a mãe do rio. Agora se não se põe a pau ainda a metem no churrasco.
Afinal não tínhamos a menor preparação para corresponder a esta pressão que os subúrbios do Porto já cá exercem. Com carros, autocarros, caravanas eles estão a um passo e somos literalmente invadidos ao domingo desde as primeiras horas da manhã.
É incontestável o seu direito na busca da água, do espaço aberto, luminoso, natural que não sendo nosso, está sob a administração de alguém. Culpados somos nós que não temos os mais elementares equipamentos, quaisquer meios além dos primários que a natureza nos deu e abrimos o que melhor que temos à conspurcação geral.
Ainda por cima estamos à mercê de todos os Chicos espertos que por cá se vão movimentando sem regras e sem freios. Uma licença obtida na Câmara para uma gelataria tradicional voltou snack-bar para todos os serviços com direito a espetar fortes cabos de aço nas indefesas árvores da Alameda S. João.
Esta permissividade faz daquela medida teatral, melhor diria televisiva, dos placares do lixo, areia para os olhos das pessoas. Parece que as receitas da Câmara tudo justificam. Desde que paguem, abusem à vontade. Este caso é só um dos muitos.
Como Daniel Campelo diz que não temos praias. Então temos um rio, areias, margens e não temos praias? Mas o presidente vira-lhes as costas. Umas vacas, uns cavalos, uma serôdia tendência para o ruralismo, dum espaço livre vai construindo umas ilhas para seu gáudio pessoal. Continuamos a partilhar o espaço com os animais.
O presidente já disse que gosta mais de animais do que de algumas pessoas. Esta antropofobia está infelizmente em expansão e não é nada cristã. É fácil deixar viver as pessoas na imundice e depois chamar-lhes sujos, bestas e outras coisas mais.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Que utilidade dos espaços de cargas e descargas?

A Vila de Ponte de Lima está enxameada de linhas, cruzes, zebras amarelas, que lhe dão uma colorido inédito, mas vá lá que o partido que usa tão bizarra cor ainda não protestou.
Quem protesta sou eu, que, presumo, numa sociedade civilizada bastasse uns singelos sinais para que todo a gente respeitasse as normas do Código das Estradas, aplicadas aqui ao nosso Centro Histórico.
Mas, a não ser assim, a ser necessário reforçar, duplicar ou até triplicar os sinais para que ninguém se desculpe por ser cegueta, então há que dar alguma utilidade à coisa.
São essencialmente locais de paragem para descargas, presumo que para as pesadas, que para as ligeiras ninguém as respeita. Na verdade aquilo que é pesado não raro se leva com um carrinho de mão, o que é leve leva-se sentadinho num carro a cavalos de força.
Nas ruas reservadas a transito pedonal os carros deambulam sem qualquer controlo. Cartas, caixotes, caixinhas, recados, até a encomenda da mulher, servem de pretexto para subir a rampa e atravessar a zona. Dir-me-ão: a gente é pouca, o comércio é fraco!
Este corrupio constante, sem ninguém perguntar ao que vai ou do que vem, não é abuso de compradores, que este, dada a crise e a dita falta de proximidade, seria desculpável, vá lá venham comprar que não precisam de levantar o rabiote, mas é praticado por comerciantes e fornecedores que atropelam todas as regras.
Os mais “espertos” deixam carrinhas umas horas com a caixa aberta, espalham mercadoria pelo meio da rua, que os clientes só compram se se lhes meter a mercadoria nas suas barbas. É a táctica dos bazares marroquinos ou da feira dos ciganos.
Os pisos são um leve capa de granito, as tampas partem com o peso duma mosca, o óleo espalha-se para aumentar as tonalidades, a salitre estende-se, os passeantes que se desviem, que façam zig-zag no labirinto dos privilegiados, supremos bens: Os carros.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A humanidade não se procura na aparência

Nenhuma pessoa pode ser rejeitada só porque teve um azar na vida, nasceu defeituosa ou não a achamos normal por padrões que só a nós responsabilizam.
Devemos antes verberar a situação em que as pessoas nessas condições se encontram e fazer o nosso possível para que elas tenham um aspecto mais consentâneo com padrões aceitáveis.
Ainda por cima essas pessoas se dedicam à pedinchice, que rejeitamos como desporto nacional, mas que em casos específicos teremos que aceitar, enquanto não houver melhor solução.
Sendo múltiplas as razões que levam as pessoas a esta postura, as soluções também o são. Não serão todas fáceis mas sem tentar é que nada se consegue e as pessoas mereciam-no.
Ao menos comecemos por ser condescendentes, aceitemos as múltiplas facetas da realidade, esta visão do “mal” nos seus efeitos, que as causas que estão a montante devemos repudiá-las.
Uns e outros não façamos das nossas particularidades, sejam elas menos agradáveis ou pelo contrário admiráveis, motivo de ostentação. A naturalidade, se adoptado por todos, é a melhor forma de ninguém ser hostilizado.
Há questões de urbanidade que levam a que ninguém, mesmo no seu espaço privado, possa ser desagradável. No espaço público há ainda regras sociais mais exigentes.
Pedinchar no espaço público sem abuso, sem ostentação das mazelas, sem insistências desabridas, sem destabilizar o ambiente, sem agressividade, está nos nossos hábitos e é uma manifestação de que muita coisa está mal e não deve ser escondida.
Por isso abomino as atitudes de muita gente “bem” que hostiliza um conhecido conterrâneo, que antes devia ser mais apoiado e incentivado a ter um comportamento menos agressivo e repetitivo.
Afinal a assistência social não pode ficar só por fazer relatórios e se ele muito bem sabe que o seu aspecto não é agradável porque não fazer as intervenções estéticas que lhe dêem mais amor-próprio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A ganância e a desvergonha dos políticos

Não ponho em causa a legitimidade que assiste a qualquer pessoa de ambicionar ser político. Pelo contrário, era imperioso que houvesse concorrência séria e que não deixássemos aos outros a nossa representação por omissão.
A radical italiana Cicciolina pôs tudo o que tinha ao serviço desse objectivo e conseguiu-o. Outros, menos dotados de semelhantes atributos, utilizam outros meios que isto de dar nas vistas, pela facilidade e pouco custo, ainda parece ser o melhor método para um dia atingir tal desiderato.
Mas nós temos de considerar que os meios utilizados dirão muitos das razões e dos reais objectivos que as pessoas têm ao se inclinarem para a actividade política. As razões altruístas que todos invocam, embora neste aspecto não se possam meter todos no mesmo saco, não é causa a acentuar demasiado.
O altruísmo aconselharia que também se não desse tanto relevo ao desejo de reconhecimento social que, sendo legítimo, será aconselhável ser concedido, mas nunca pode ser visto como obrigatório. Quem não aceitar isto tem sempre uma porta de saída, que na política ninguém se pode considerar imprescindível, embora ninguém goste de ser empurrado porta fora.
Tudo deve ser claro para que não hajam participações que fiquem caras à sociedade. Porque isto de dar reconhecimento social a quem já recebe outras recompensas, e muitas não são pequenas, parece-me exagerado.
Há pessoas que não querem outra coisa mas andam sempre a dizer que não têm qualquer satisfação pessoal em serem políticos. Invocam que todos são criticados, sejam ou não correctos na sua forma de actuar. Então defendem que as más vontades só se alimentarão com compensações, mais compensações. Além de gananciosos são desavergonhados.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Logo vêm aí os bares rolantes com o sarrabulho quentinho

Em princípio pensei que seria uma campanha publicitária, alguma nova estratégia de promoção do comércio local, enfim haveria inovação e iniciativa. Mas há destes lapsos, faltou-me um pormenor, era domingo e o comércio está quase todo fechado.
Carros, carrinhas, carros publicitários, atrelados, painéis estrategicamente distribuídos por onde anda gente, que são esses que se querem pescar. Casas de cosméticos, de bicicletas, comida enlatada, soirées para a terceira idade, tudo se publicita.
Estamos em Ponte de Lima, no terreal, nos passeios, no Largo de Camões, salão nobre da urbe. A inundação dominical, maugrado o tempo, cá está, os restaurantes estão cheios, mas afinal, estando o restante comércio fechado, para que serve esta publicidade. Será que esta gente vem cá à semana comprar algo?
Claro que é gente de trabalho e só tem tempo para ir aos hiper, super e quejandos que por todo o lado vão proliferando, quase à porta de cada um. Se ainda ao menos estivessem abertos ao domingo os estabelecimentos propagandeados! Até dava emprego a alguém, as ruas tinham outra cor, mas cada um sabe das suas.
Mesmo assim há outros métodos publicitários mais eficazes do que vir no sábado à procura de um lugar para o mamarracho. Deixar um reboque em pleno Largo, uma carrinha quinze dias estacionada no mesmo local, um reboque abandonado, um veiculo cheio de números de telemóvel, parece uma saloiada do mais primário que há. E depois querem ter sucesso.
O S. Miguel dos restaurantes é o domingo, se outros ramos do comércio querem aproveitar a onda saltem para cima dela, mas armados com os apetrechos necessários. Na sua falta é o comércio ambulante que vai fazendo o seu caminho, qualquer dia vêm bares rolantes vender o sarrabulho quentinho.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Vai ser necessário fazer uns cursos para que se não perca a broa artesanal

Há partidos em que se defende que há assuntos que, por razões conspirativas ou de oportunidade, não devem ser discutidos cá fora, mas sim dentro das suas estruturas. Também há quem tenha as mesmas ideias em relação à sociedade em que vivemos.
Principalmente em relação àquilo que nos pode deixar ficar mal há quem invoque o “dever” de abafar para que esse efeito não seja atingido. Mas se queremos que nada seja feito é mandar recados privados a quem se preocupa só com o “faz de conta”.
A imprensa só executa convenientemente a sua missão se puser a “boca no trombone” e colocar as questões frontalmente sem cuidar dessas sensibilidades totalitárias. Isto vem a propósito de pouco, dirão, mas é por aqui que se revela a mentalidade.
Os feirões de domingo no Largo de Camões com um rancho folclórico são iniciativas simpáticas em que eu participo com gosto. A Associação de Folclore terá incentivado todos os ranchos a fazerem broa caseira para dar relevo às nossas tradições.
Se alguns a fazem a preceito, a maioria fazem-na de modo constrangedor: A broa fica ensebada. A má imagem é evidente e mesmo que seja só para os de Gondomar eu fico chateado na mesma. Não vão eles gozar connosco.
Haverá aqueles que dirão, à boa maneira totalitária, que, se se não falasse, isto passava despercebido. Esta mesquinhez só será abandonada se impusermos outras regras e outro estilo na maneira de abordarmos estes assuntos.
Porque não a Associação de Folclore fazer uns cursos para o efeito de habilitar as pessoas a manter uma tradição que se terá rompido na geração anterior. Já só os avós sabem disto, mas sempre haverá quem tenha brio em fazer uma broa que até devia ser certificada, que nós não temos só sarrabulho.
Amante da broa, broeiro quanto baste, aqui já com privacidade, estou disposto a indicar aos interessados algumas monitoras.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A política não justifica tudo e os rótulos ainda menos

Quando se quer desvalorizar as opiniões de alguém diz-se que elas têm base política, não passam de politiquices. Mas se queremos fazer uma leitura correcta da opinião de outrem devemos aferir da medida em que ela comporta alguma sabedoria.
O conhecimento da posição política de uma pessoa pode ser tão importante como dos aspectos pessoais, sociais ou intelectuais. Mas isso vale para os dois lados, o de quem comenta e o daqueles que são eventualmente comentados.
É certo que tudo evolui e não se podem colocar rótulos definitivos. Há mesmo quem hipocritamente diga que não é nada daquilo que lhe atribuem, só o é enquanto isso lhe interessa. O coração está num lado, a carteira noutra.
Mas eu não vou por este caminho, nem faço sentenças morais baseadas nestes aspectos relacionados com o comportamento de cada um. As coisas valem politicamente o que valem quando se trata de política, mas valem socialmente o que valem quando se trata do relacionamento social.
E se eu me fosse pronunciar sobre aspectos pessoais fá-lo-ia em termos tais que não haveriam dúvidas. Mas eu não sou juiz embora saiba que há muito cretino empoleirado, mas valha-nos a verdade é que o deixam.
Pessoalmente até admito muito mais que me chamem idiota do que pretendam que as minhas opiniões se devem tão só a razões políticas. Até gostarei que quem entender que estou desfasado da realidade e só vomito anacronismos me chame à atenção.
A política não justifica tudo, nem tudo serve para justificar as posições políticas de cada um de nós. Se este espírito maximalista ainda existe é porque é atávico e renasce continuamente, século após século, regime após regime, líder após líder.
Mas eu não estou cá para fazer favores a líderes ou candidatos a tais. O meu pensamento é incómodo mas custou-me muito tempo e sacrifício, tenho mais do que me preocupar do que com as cócegas que ele eventualmente possa fazer a alguém.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Líder é líder ... mas não serve para tudo

Não é pelo domínio em que exercemos a nossa intervenção social que podemos determinar a qualidade da nossa acção.
A ideia tradicional é que havia um crescendo, uma valorização progressiva que levava as pessoas a começar pelos degraus mais baixos de participação até atingirem o topo e transitar depois para outro nível de intervenção.
Começava-se pelo associativismo recreativo, passava-se ao empresarial, ao assistencial, às autarquias e quiçá ao Parlamento. São resquícios do corporativismo salazarista porque os valores em causa são bem diferentes. Pela mesma razão os ensinamentos e conhecimentos necessários também não são iguais.
Houve porém uma fase em que se passou a pensar que líder era líder e o líder servia para tudo, estava bem em qualquer lugar. O que era necessário era ter uns capangas, uns aguadeiros para serem dirigidos e calar. O líder lá estava para pensar e dar ordens.
Criavam-se desta maneira ídolos, pessoas que se desejavam para qualquer lugar. Ah! Se fulano cá estivesse, tiraria ouro donde os outros só conseguem extrair escória.
Quando se referendou a regionalização não faltavam desses ídolos que afinal na sua maioria se veio a verificar terem pés de barro. Também em Ponte de Lima os há. O que fazem é esperar que os que estão no pedestal caiam e acham que estar em associações é fazer curriculum para o futuro.
Temos de ser mais exigentes para com aqueles que lideram as associações da nossa terra e porque não as da região e do país, de modo a fazerem o balanço social da sua actividade.
Balanço, não só para os sócios, mas para toda a comunidade, à qual afinal eles vão buscar a grande maioria dos recursos que utilizam. Não é necessário ter coragem é uma obrigação.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Os mixordeiros e o direito a uma imagem límpida

Em boa verdade nunca vi nenhum Limiano que quisesse roubar a Viana do Castelo aquele título que esta se atribui de Princesa do Lima. Os Vianenses gostam, até lhe fica bem e a nós não nos faz mal. É um nome feminino, delicado e as nossas mais agrestes terras do interior terão outros atributos igualmente louváveis.
Quando vi um placard na Rotunda de S. Gonçalo a reclamar aquela designação fiquei chocado, quem teria o atrevimento de vir agora apropriar-se de coisa alheia. Não teremos nós a criatividade para não andar a copiar os outros? Sosseguei porém quando vi que havia uma fotografia de um copo de cerveja com referência a uma determinada marca. É esta cerveja a pretensa Princesa.
Os criativos da publicidade têm por vezes destes ideias mirabolantes. Querem associar o seu banal produto a um outro de qualidade e fazem-no sem olhar a que os outros também têm direito à imagem e a que ela não seja associada a qualquer coisa de baixo valor. A publicidade agressiva não pode chegar a tanto.
Ainda por cima a ousadia desta marca cervejeira que faz as suas mistelas com água do Paiva ou do Douro e sem pitada cá da nossa, vai ao ponto de vir cá fazer concorrência ao nosso saboroso néctar de uva, esse merecedor de todos os títulos deste género e de referências em todas as pantalhas e esquinas.
Já nos não chegava a saga do queijo Limiano que, tendo aqui o seu berço, é agora um filho pródigo que nos foi retirado de modo menos correcto. Valha-nos perpetuar o nosso nome e espalhá-lo por esse mundo além. Como muitos emigrantes teve o seu parto em Ponte de Lima mas não lhe pudemos dar o preciso alimento.
Essa água choldra não tem Pátria, faz-se desde que haja ingredientes e um rio perto, mas se se quer ligar a algum lugar que seja ao da sua origem. A Galdéria não venha cá chamar pai ao Lima, vá chamar pai a outro, sua Princesa do Douro (ou do Paiva).

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Como implementar uma economia ecológica

A nossa preocupação ecológica já vem de há muito, mas só nas últimas décadas assumiu carácter mais sério com a avaliação e o rigor científico que se colocou na sua análise. Falava-se em poluições, mas só as alterações climáticas fizeram suar o sinal de alarme. O ambiente está enfim no domínio das decisões políticas.
Por mais passos que se dêem, e agora o G8 deu um pequeno passo, não podemos dormir descansados. O problema tem de ser visto na sua verdadeira dimensão, com a extrema gravidade que deriva de estar em causa o futuro da humanidade.
Nós indignamo-nos com a leviandade com que se continua a tratar estas questões, com a indiferença que a maioria de nós manifesta em relação a elas. Vai-se pretendendo sensibilizar as crianças, mas são tantos os maus exemplos à sua volta que é de duvidar da sua eficácia, se não envolver os mais velhos.
Toda a sociedade está envolvido num consumismo glutão que contorna a realidade e cria a ilusão de que os cientistas resolverão todos os problemas e os políticos actuarão na hora exacta em que já mais nada houver para fazer.
A força determinante na sociedade é a economia. Ainda por cima é uma força anestesiadora que actua selectivamente sobre o nosso cérebro. E está hoje interessada em que se queime todo o petróleo que existe, que depois se acabe com o gás natural, que se produza cada vez mais e se polua cada vez pior.
Nós próprios, poderosas forças económicas do lado dos gastadores de bens e produtos directa ou indirectamente poluidores, contribuímos sobremaneira, com a irracionalidade do nosso comportamento, para o agravar da situação. Temos de deixar de acreditar na força depuradora da natureza.Consumimos carne de vacas altamente poluidoras, gastamos gasolina, plásticos, óleos, metais, acima de tudo destruímos energia não renovável ou obtida por processos poluentes e cujo consumo mais poluição provoca. Não invocamos o fundamentalismo mas perguntamos: Onde andará o bom senso?

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O que nos falta daquilo que os Galegos têm?

O aumento significativo do PIB Galego nos últimos tempos dá azo a muitas e variadas interpretações, a favor desta ou daquela causa. Terá este facto a ver com a regionalização operada em Espanha, com a dinâmica nacional, com a estrutura activa, com a preparação do activo laboral, com o dinamismo empresarial, com a capacidade para atrair investimentos, com as condições naturais?
Normalmente a análise mais fácil é feita em termos comparativos e mediante conclusões rápidas do tipo: O nosso atraso deve-se ao que cá nos falta daqueles factores e que eles têm em quantidade adequada.
O certo é que a economia, se fosse assim tão simplista, qualquer merceeiro podia ser Ministro da dita pasta. Mas podemos dar de barato que todos aqueles factores têm a sua importância relativa e só a sua conjugação permite obter bons resultados.
Se as coisas não estão pior do lado de cá da fronteira, do Minho ao Douro, de Ponte de lima a Marco de Canaveses, é porque muito trabalhador de cá só lá encontra onde labutar e trás para cá algum daquele PIB lá gerado, mas, e ainda bem, nem todo lá distribuído.
É um pequeno quinhão mas já permite que se diga que em Ponte de Lima não há desemprego, porque os nossos têm de trabalhar e morrer na Galiza. E permite que se diga que o aumento daquele PIB não é assim tão linear, mas afinal também corresponde a um aumento da massa laboral.
De qualquer modo, se o produto do trabalho dos nossos deslocados fosse realizado do lado de cá, maior bolo cá ficaria e menos dependentes seríamos daqueles que para seu proveito nos vão fornecendo esse trabalho, porque são os donos dos meios.
Afinal o que nos falta para termos a atractividade da Galiza, principalmente se pensarmos que a Galiza partiu de um patamar semelhante ao nosso e foi durante séculos vítima dos mesmos atavismos que sempre nos trouxeram agarrados ao passado?

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Aquilo que ninguém lê mas fortalece a nossa identidade

Nunca foi de pensar que nos velhos reside toda a sabedoria. Pelo menos com esta generalização. Um mito que se criou é que os velhos teriam sempre algo a dizer na hora da morte. Se este mito foi criado com a ideia de que se respeitassem os velhos até à dita cuja, reconheço que a intenção até foi boa.
Porém, para provar isto, só conheço aquela história do J. M. Fonseca, grande empresário dos vinhos em Setúbal. Tendo já ensinado tudo o que havia para ensinar na arte de fazer vinho, resolveu à hora da maldita revelar o seu maior segredo, aquilo que os filhos não tinham precisado de saber até aí: Meus filhos têm de saber um grande segredo, há um vinho que se faz com uvas!
De resto os velhos sempre vão transmitindo a sua sabedoria ao longo da vida. De tal modo que os novos, não contando com qualquer herança extra na hora fatídica, colocam os pais onde eles menos incomodam, à espera da estaferma. Os novos não pensam que também seria melhor prepararem-se para virem a ser eles os velhos que no futuro os filhos tratarão da mesma maneira!
Está provado que não se pode ser velho, que os velhos são vistos como uns inoportunos e enfadonhos, pelo menos quando têm os bolsos vazios. Um velho é muito pouco respeitado e cada vez mais pobre. Além disso facilmente sisma: onde terá ele errado?
Resta ao velho assegurar o seu lugar dando à luz a história da sua vida, das vicissitudes por que passou. E o melhor é passá-la a escrito com o fito de a estruturar. Não servem choradinhos, traições, mentiras de que se achar vítima, mas os medos e inquietações por que terá passado.
Não tenham receio de que os filhos não venham a gostar, porque eles precisam de compreender, para se tornarem guardiães da herança familiar. Não falta quem, achando-se bem sucedido, dos vindouros faça vencidos, por isso não veneráveis. Veneram mais depressa um qualquer Chico Esperto.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O estranho silêncio sobre o T.G.V.

O tema não tem sido abordado, não se têm manifestado preocupações, muito menos oposições ou apoios à passagem do TGV por terras limianas, o que já é entendido como certo por espanhóis e portugueses.
Podíamos ir mais longe e questionar a validade do projecto em si e andaríamos aí indefinidamente à volta da sua falência económica e da sua necessidade política.
Mas aqui manda quem pode e parece que estamos mais dependentes da vontade europeia e galega do que da nossa própria. São assuntos que, dizendo-nos respeito, nos ultrapassam.
Fiquemos pois tão só pelas implicações locais, porque nós só temos que ceder a passagem e desejar boa viagem. Por exemplo é garantido que paragem do TGV aqui não vai ter.
Mesmo não sendo um daqueles super rápidos, mesmo sendo a sua velocidade limitada, a sua eficácia exige poucos apeadeiros. O resto do trajecto que seja feito pelas normais estradas de Portugal.
Portanto entre o Porto e Vigo parará em Braga e já é bem bom, dizem. Nós cá vamos suportar todos os inconvenientes. E benefícios? Nenhum. Mas eles dirão que não têm culpa de estarmos aqui. E já não há coutadas, pelo menos quando isso lhes interessa.
São conhecidas as dificuldades provocadas pela deslocação do ar, o corte em dois do espaço circundante. Esta barreira torna-se intransponível para muitas espécies animais, mesmo para o homem. Esta barreira vai condicionar muito o futuro.
Só a irregularidade do solo, obrigando à construção de muitos viadutos e túneis, permite alguma circulação, nem tudo é mau. Mas se esta linha vai contribuir para o progresso, deveria haver muita gente a reclamá-la para si. Não é estranho?

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O falso padrão televisivo

A maior ilusão que nos foi criada é a televisão. Persegue-nos por todos os lados, sem que nós nos apercebamos disso, antes pelo contrário, nós temos a ilusão que passeamos pelo mundo.
A verdade é que isto talvez não fosse grave, não fora nos ausentarmos inadvertidamente do sítio em que nos encontramos. É tão grande a quantidade de outras aparências que ela nos cria que já dificilmente nos imaginamos como sendo só do nosso lugar.
Uma delas é a estarmos próximo de tudo, de repente parece ser tudo familiar, já nada estranhamos, tudo nos aparece pela casa dentro já devidamente tratado, editado como dizem, pronto a ser assimilado pela nossa inteligência televisiva.
É-nos criada a ilusão de que já sabemos de tudo, estamos aptos a discutir as questões mais complexas, seja qual for a sua natureza. Seria bom se a televisão nos despertasse para procurar saber mais através de outras vias, mas falta-nos tempo para isso.
Na realidade estamos cada vez mais afastados do que verdadeiramente interessa, com a atenção demasiado dispersa, sem benefício que se veja em termos de compreensão do mundo, de solidariedade para com os povos mais infelizes.
Descuramos os contactos com os que fisicamente nos estão próximos, os diálogos directos, que não sejam sem a intermediação dessa presença obsessiva dos projectores que só captam os contornos da realidade que se salientam pelos aspectos mais marcantes e excessivos, seja pela positiva ou negativa.
Temos que ser mais selectivos, escolher melhor os motivos de interesse que nos devem despertar mais a atenção, ler mais jornais e livros, utilizar a Internet com moderação, mas acima de tudo conversar mais, dialogar, procurar compreender os outros e criar os laços saudáveis que a televisão nos não ensina a tecer.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

A profunda crise da vitivinicultura limiana

A estrutura do território limiano assentou durante séculos essencialmente em quintas. Eram unidades auto suficientes que englobavam os melhores terrenos, os melhores bosques, as melhores nascentes, mesmo que fora do seu domínio e que ocupavam na sua maioria de quatro a doze hectares e excepcionalmente chegavam aos cinquenta.
Uma boa quinta dava para várias produções, para o regadio e para o sequeiro, para alimentar os animais de Verão e Inverno. Salvaguardados os aspectos sociais, esta visão tornou-se para o nosso espírito quase idílica.
A vinha contínua alastrou-se por tudo que é sítio e destruiu este equilíbrio assente na cultura promíscua. Hoje, com a crise no mercado do vinho verde muitas quintas ficaram ao abandono.
Este é o ano alfa de todas as catástrofes agrícolas. Muitos agricultores não aguentaram viver com créditos de dois anos por solver. Ao terceiro ano a corda rebentou.
Quem der uma volta pelo concelho vai ver um espectáculo degradante. Já não são só latadas, mas também os bardos que foram cortados ou ficaram sem poda a dar uvas para os pássaros. À espera de um subsídio para o seu corte pela raiz, talvez.
Mas também quintais de menor dimensão vão sofrendo o mesmo destino cruel. Com os donos a terem que trabalhar cada vez mais longe quem os há-de cultivar?A insistência em que a transferência da Adega Cooperativa resolveria o problema do nosso vinho verde parece irrealista.
Foram tantos os erros cometidos pelas gestões anteriores, é tão fácil cair, que, para subir, só com apostas mais especializadas, estruturas mais leves, vinhos de quintas com vinificação centralizada e aposta na reconquista dos mercados tradicionais.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Continuará a haver Cavalos de Tróia?

Em Ponte de Lima quando se faz algo bem feito não se deixa cair o mérito na rua, toda a gente é ciosa de o guardar. Mas já, quanto ao que está mal, todos lavam as mãos, é invariavelmente obra dos outros, invariavelmente dos que não fazem nada.
Não sei como isto é possível mas já admito tudo. Há quem pretenda que o que existe há séculos foi construído ou desenterrado há poucos anos. Também ninguém quer falar do nosso verdadeiro passado como que haja vergonha dele.
Se a recuperação do Centro Histórico de Ponte de Lima jaz parada, a culpa é de alguém. Tarda a recuperação dos prédios mais avantajados e em estado de degradação avançada. Questões burocrático/legais? Dificuldades económicas?
Mesmo correndo o risco de ficar sem o meu lugar no Largo de Camões (o Zarolho da Paula) é imperioso que se faça algo. Os proprietários, os que herdaram ou comprarem com intuitos honestos deveriam ter facilidades e apoios. Dos especuladores não tenho eu pena, mas aqui o resultado é que deveria importar mais.
Para todos os efeitos interessava que fosse criado alojamento na zona histórica. De certo que escritórios também, eram precisos embora não haja empresas e mesmo estas os instalam cada vez mais junto aos locais de produção. E comércio especializado que o grossista não cabe aqui, deixá-lo para as rotundas.
Ponte de Lima tornou-se um concelho marginal desde que deixou de ter significado o intercâmbio com a Galiza. É necessário retomá-lo, integrando-nos no movimento de ligação transfronteiriça, mas não veja iniciativas, a não ser mandar para lá trabalhadores.
Manietado pela dinastia de Avis que conseguiu introduzir dentro das suas muralhas um cavalo de Tróia, Leonel de Lima. Irrelevante no próprio Minho, Ponte de Lima podia ter sido um concelho estandarte, tornou-se um concelho submisso. Por mais que alguns se queiram pôr em bicos de pé.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Um emblema turístico para Ponte de Lima ou para o Minho?

Está em curso uma campanha de promoção turística do Algarve que assenta na palavra “Allgarve”. Com ela se pretende significar que o Algarve tem tudo o que é necessário em termos turísticos para os mais diversa clientela de diferentes idade, preferências e carteiras.
A promoção turística tem de assentar em termos simples, de preferência um só termo, uma marca, que diga tudo às pessoas. Neste caso pela própria natureza da palavra, uma sobreposição do “All” em inglês significando tudo, à nossa Algarve.
A Câmara de Ponte de Lima quer lançar uma marca “Ponte de Lima”, cujos méritos têm que ser analisados colocando-nos na posição daqueles que procuram um destino turístico sem possuir grandes referências, mas o querem para uma estadia mínima.
Ponte de Lima esteve ligado ao nascimento do turismo de habitação e derivados, mas com a expansão deste perderam-se muitas referências, além de que se destina a uma clientela muito específica e limitada por natureza.
Por mais que procuremos esticar o nosso património, edificado e natural, por mais valioso que ele seja, não é suficiente para justificar uma estadia prolongada e o turista só se engana uma vez.
Os eventos, Vaca, Feiras Novas, são de referência mas por natureza temporais. O sarrabulho, nas actuais circunstâncias, não é sequer um emblema de que nos devemos orgulhar.
O turismo de Ponte de Lima tem de estar englobado numa mais vasta estratégia promotora do Minho com as suas particularidades, tonalidades, paisagem, sabores, património, passado. Afinal daqui nasceu Portugal: Minho, o coração de Portugal.