quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Sem vinho de que nos serve agora a terra?

As vindimas atingiram o auge esta semana. A actividade em que se inserem, a agricultura, está em nítido declínio. A pequena produção deste ano que seria há uns anos uma catástrofe passa hoje quase despercebida e é entendida como a possível tábua de salvação daqueles que persistem em que lhe atribuir algum valor.
Efectivamente espera-se um resultado de tal modo negativo da produção vinícola do verde, que aqueles que por sorte ou arte tiverem uma produção satisfatória verão os seus rendimentos subir de forma que se tornará compensatória.
O sector estava à espera de uma certa racionalização, mas esta maneira tão brutal de intervenção trará mais problemas do que aqueles que resolve, se é que resolve algum dos principais. Só uma profunda reformulação da vinha, com o corte da vinha em zonas impróprias e uma cuidadosa selecção de castas resolverá o problema de fundo: o excesso de produção e a falta de qualidade.
Com o regime de propriedade prevalecente na região do vinho verde, reconheça-se vantajoso porque faculta a quase toda a gente o acesso a ela, para que as pessoas desistam de produzir vinho sem qualidade só com a alteração dos hábitos de consumo próprios e pelas novas exigências da clientela disponível.
Com a diminuição do consumo de vinho que mesmo nos meios rurais passou de elemento importante da alimentação para acompanhamento perfeitamente substituível, muita gente passou a pensar ser razoável não ter uma produção própria e comprar vinhos comercializados para melhor satisfazer o seu gosto.
No fundo esta mudança insere-se numa séria de mudanças que se vêm operando nos últimos trinta anos e têm contribuído para alterar hábitos, economias domésticas, paisagens. A vinha será uma das últimas resistências que, ao se desmoronarem, alterarão a nossa ligação à terra e a nossa maneira de ver o mundo.
Para o bem e para o mal. Ou, se relativizarmos as coisas, para uma diferente inserção do homem destas paragens no mundo.