sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Garça vítima de bárbara agressão

Foi o Rio Lima que fez de Ponte de Lima aquilo que hoje é. Quase podemos dizer que, depois desta bênção, tudo o que podemos fazer é estragar. Quando a intervenção humana era limitadíssima o Rio era de uma beleza incomparável.
Perdoa-se-nos a Ponte, uma barreira para o Rio, um miradouro privilegiado para a limpidez da água, para o espectáculo dos variados peixes que abundavam, das sazonais lampreias, sáveis, tainhas e até salmões. Da água às margens as brancas areias.
Houve obras inevitáveis, outras talvez não, mas cá e na Espanha os interesses económicos falaram mais alto que as suas naturais consequências na ecologia e na estética do vale. A barragem de “Las Conchas”, inaugurada no longínquo ano de 1949, cortou pela primeira vez o Rio. Secaram-se pântanos e lagoas de “Antelas” na grande planície de “Ginzo de Límia”
Mais recentemente as barragens de Lindoso e Touvedo alteraram significativamente os caudais do Rio, em muitas situações para melhor, porque o tornaram menos agressivo no Inverno e mais bondoso no Verão, mas com inevitáveis efeitos negativos. Há menos arrastamento de inertes, menos fertilização dos campos marginais.
O grande crime terá sido a extracção desenfreada de areia com fortes arrastões que abriram perigosos poços onde não poucas pessoas morreram. As alterações no curso da água, a formação de ilhas, o estreitar das margens, deram origem a uma vegetação invasiva inexistente outrora.
Hoje com estranhas desculpas, querendo apresentar como natural aquilo que o não é, quando já vai sendo possível repor a antiga situação, evita-se qualquer reparação dos estragos que o homem foi acumulando. Onde deveria ressurgir a areia fina plantam-se carros, fazem-se fogueiras, acampa-se livremente.Nada é imutável, mas quem ama o Rio quer que ele volte ao antigo esplendor. Dizia há duas semanas: Se a garça se não põe a pau ainda a metem no churrasco. Parte disso já se confirmou: Estes dias os caçadores deram-lhe um tiro e partiram-lhe uma asa.