sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O Galo de pé descalço ao poleiro!

Criou-se um mito, uma imagem idílica dum mundo rural em que as aves de capoeira esvoaçavam livremente nas eiras de quintas e casais comendo os bichinhos da terra, a segadura da erva e dos restos das couves do caldo, algum milho para desfastio e engordavam sem custos que se medissem de modo mercantil.
Em qualquer momento a patroa estava pronta a degolar um dos seus melhores bicos a mando do marido para receber alguém de modo mais festivo. O que como é evidente só acontecia por festas, não quando aparecesse algum pobretanas.
A verdade é que tão poética fartura sempre foi vista como um sinal de egoísmo de quem viveria bem integrado na natureza e se estava marimbando para que o frango fosse inacessível aos suburbanos. Tanta fartura não colmatou a fome e seria preciso o frango de aviário para conseguir debelar de vez um mal secular.
Uns, mais fatalistas, dirão que o mundo rural tem tendência a morrer agarrado aos seus próprios valores, empolando sempre o seu contributo para a economia geral e nunca pondo em causa o seu atraso tecnológico e organizacional. Na verdade a nossa lavoura mostra-se incapaz de se preparar para o futuro, de prever os golpes devastadores que periodicamente caem sobre si.
Com o frango de aviário, o frango de pé descalço ganhou valor pela qualidade e o que poderia ser o seu fim tornou-se um incentivo à revitalização. Só que o frango caseiro vinha de uma realidade não mercantil. Quando se foi a fazer contas e verificar a diferença entre produção intensiva e extensiva e a pagar os factores de produção apropriados, ficou a perder.
Para agravar a situação, as gerações que hoje mais consomem alimentos são precisamente as gerações do frango de aviário, preferem-no, rejeitam mesmo o pé descalço, muitos já o acham quase intragável. Mesmo sem A.S.A.E. o seu mercado já está em manifesto declínio. Que haveremos de fazer por esta altiva ave, mantendo-lhe as características, a consistência e o sabor?