sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Toda a vaidade e toda a inveja são marginais na história

Este afã de colocar tudo em livro, em audiovisual, até na Internet revela uma preocupação com uma mudança que está em curso e nos fará esquecer de todo um passado que devemos preservar, independentemente de ter sido bom ou mau.
O ideal seria que nós memorizássemos em suporte impessoal factos, modos de vida, afazeres, tudo aquilo que pudesse ser utilizado como tema de estudo no futuro. Garantir-se-ia um acesso fácil, imediato e generalizado. Tudo o resto se vai perder.
Era costume há uns anos fazer os maiores elogios às pessoas de memória brilhante que nos podiam dar indicações preciosas sobre os acontecimentos que tinham presenciado. Até se entendia como sábio aquele que era capaz de descrever com alguns pormenores algumas histórias do seu tempo.
Tudo tem o seu lugar. Mas as pessoas estão muito dependentes da sua perspectiva e a história de uma época é a história que integra a história de todos mesmo quando a história de muitos é marginal em relação ao eixo vital, ao fio condutor que fez com que o presente seja aquele que temos.
Quer dizer que, mesmo que eu não queira, eu também lá estou na história do meu tempo, marginal ou não em relação a toda a história dos meus contemporâneos. Quanto cada um de nós mais próximo se consegue colocar em relação àquele fio condutor que nos trouxe até aqui mais sábio será.
Toda a sabedoria reside em nunca desprezar o medo, o sacrifício, em perseguir mais de perto ou mais de longe aquele eixo vital, em conseguir transmitir aos novos a humildade de aceitarmos aquilo que o nosso esforço é capaz de obter, a luz que partilhamos e nos ilumina o caminho.
Tudo o que é superficial se esvairá um dia. Deixaremos de correr atrás da vaidade porque perceberemos que essa é a melhor maneira de nos afastarmos dos outros, sem benefícios efectivos. Deixaremos de ser impulsionados pela inveja porque essa nos cega e nos rouba a paz.

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