sexta-feira, 8 de junho de 2007

Aquilo que ninguém lê mas fortalece a nossa identidade

Nunca foi de pensar que nos velhos reside toda a sabedoria. Pelo menos com esta generalização. Um mito que se criou é que os velhos teriam sempre algo a dizer na hora da morte. Se este mito foi criado com a ideia de que se respeitassem os velhos até à dita cuja, reconheço que a intenção até foi boa.
Porém, para provar isto, só conheço aquela história do J. M. Fonseca, grande empresário dos vinhos em Setúbal. Tendo já ensinado tudo o que havia para ensinar na arte de fazer vinho, resolveu à hora da maldita revelar o seu maior segredo, aquilo que os filhos não tinham precisado de saber até aí: Meus filhos têm de saber um grande segredo, há um vinho que se faz com uvas!
De resto os velhos sempre vão transmitindo a sua sabedoria ao longo da vida. De tal modo que os novos, não contando com qualquer herança extra na hora fatídica, colocam os pais onde eles menos incomodam, à espera da estaferma. Os novos não pensam que também seria melhor prepararem-se para virem a ser eles os velhos que no futuro os filhos tratarão da mesma maneira!
Está provado que não se pode ser velho, que os velhos são vistos como uns inoportunos e enfadonhos, pelo menos quando têm os bolsos vazios. Um velho é muito pouco respeitado e cada vez mais pobre. Além disso facilmente sisma: onde terá ele errado?
Resta ao velho assegurar o seu lugar dando à luz a história da sua vida, das vicissitudes por que passou. E o melhor é passá-la a escrito com o fito de a estruturar. Não servem choradinhos, traições, mentiras de que se achar vítima, mas os medos e inquietações por que terá passado.
Não tenham receio de que os filhos não venham a gostar, porque eles precisam de compreender, para se tornarem guardiães da herança familiar. Não falta quem, achando-se bem sucedido, dos vindouros faça vencidos, por isso não veneráveis. Veneram mais depressa um qualquer Chico Esperto.