sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Se não se é apanhado pela boca, é-se apanhado por baixo da barriga

Em Ponte de Lima o preço da água consumida é escalonado e altamente progressivo. A relação é quase de 1 para 4. Para quem consumir muito água por mês, a que ultrapassar os 25 m3 é paga a 1,39 €, contra os 0,33 € que todos pagam pelos primeiros 5 m3.
Foi agora introduzido o pagamento do tratamento das águas residuais por indexação ao consumo de água. Utilizaram o mesmo escalonamento quantitativo para preços diferentes e submetidos a critérios diferentes de progressão de valores.
Para as águas residuais a relação é somente de 1 para 1,75. O seu tratamento no excedente aos 25 m3 é pago a 0,72 €, cerca de metade do custo da água respectiva, ao passo que os primeiros 5 m3 já são pagos a 0,41 €, mas superior em 25 % à respectiva água.
Em boa política social quem muito consome deveria pagar os custos da operação dos equipamentos e quem se limita aos consumos mínimos deveria pagar somente uma parte dos custos totais, podendo-se adoptar como critério os custos variáveis.
Dando de barato que assim possa ser, embora se não perceba tanta diferença nos critérios de progressão, a questão assume aspectos caricatos. Todos são convidados a consumir pouca água mas quem o faça paga pelo seu tratamento 125% do seu preço e quem o não faça só paga pelo seu tratamento 50%.
Há quem arranje explicação para tudo. Uns dirão que quem pouca água consome o fará preferencialmente para se lavar e se alimentar e a devolve na totalidade e bem suja à rede de esgotos. Os que consomem muita gastá-la-ão para fins menos conspurcantes e só devolverão uma pequena parte.
Outros dirão que o esgoto do quem consome pouca água é mais denso, bem sujinho como convém. Por exemplo consegue tirar o lixo do corpo com menos água. Já quem não liga à quantidade envia para o esgoto um resíduo mais diluído, deixa correr a água à larga.Não se pode ser pobre. Se não se é apanhado pela boca, é-se apanhado por baixo da barriga.