sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Muito consumo, pouca consciência

Aproxima-se uma época de muito consumo e pouca consciência. Vivi a fase mais marcante da minha vida rodeado de entidades a fazer a apologia do uso parcimonioso do dinheiro, quando eu, como a maioria de nós, o não tínhamos. Por este indecoro é que nós não ligamos a essas recomendações.
Referia-me em particular às vozes outrora poderosas porque partilhavam de vários poderes, eficazes porque tinham uma repercussão profunda na maneira como a vida era vista pela grande maioria, com autoridade indiscutível pela infalibilidade que a partilha do sagrado lhe dava, e que hoje estão caladas.
Para as mentes daquele tempo o que hoje se passa é um escândalo. É no Natal que o dinheiro mais se esvai. Dir-se-á que é bom, que a economia floresce, que o dinheiro circula, incentiva e cria emprego. Fora o carácter supérfluo que algum deste consumo tem, está tudo bem quando é do nosso agrado.
De resto estou convencido que a maioria do consumo se refere a artigos necessários que poderiam ser comprados em qualquer outra ocasião e que só o são agora por haver mais disponibilidade. Em termos económicos só se poderá por em causa mesmo os produtos que têm proveniências exteriores ao nosso mercado.
Também de nada valeriam as retóricas morais que hoje já não teriam qualquer efeito. É mais salutar ter sentimentos contraditórios do que alimentar sentimentos arreigados. Por isso se é contra e se não é ao mesmo tempo. Por isso se dá prendas ao desbarato para se não ferir susceptibilidades. Por isso se alimenta o superficial em vez de partilhar qualquer sentimento mais profundo.
Mas se vai aumentar o consumo que aumente a consciência. Associemo-nos à campanha antecipada de prevenção rodoviária e ao apelo para que se atenue a mortandade que paira nas estradas. Que se gaste o dinheiro que aprouver mas que se seja comedido na estrada. Que se não gaste displicentemente a própria vida e a dos outros. È a melhor prenda de Natal.