sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quem preserva a velha aldeia na sua dimensão humana?

Sendo das aves que passa bastante tempo no Largo de Camões, no intervalo dos seus afazeres piscícolas nas mansas águas do Lima, facilmente a garça seria levado a ver o concelho de Ponte de Lima por esse óculo estreito.
Na realidade ela não me transmite esse mal que afecta tantos. A pé, de bicicleta, agora de carro, sempre fez as minhas incursões ao campo, à aldeia. Sempre encontrei aldeões, homens que gostam da sua terra, que adequaram o seu modo de viver e de ser à realidade local, que estão prontos a partilhar com os vilões uns momentos de conversa, de aprendizagem mútua, de convívio.
Quando há festa todos são bem recebidos, seja num bosque, no alto dum monte, nas margens duma ribeira. A festa acontece, a conversa também, ninguém viola o estado de espírito do outro, quem não vive no lugar respeita quem se sente bem integrado num meio que durante séculos foi quase imutável, mas criam-se laços..
Sabemos quanto a terra nos tem fugido debaixo dos pés, quanto as coisas tem mudado, quanta desertificação ocorreu, quanto novos afazeres mais lucrativos fizeram desviar a gente, quanta técnica inovadora contribuiu para o abandono dos antigos ritmos e práticas!
A aldeia perdeu o velho espírito aldeão, é invadida por citadinos que se isolam, vivem lá uns dias mas num mundo aparte, não criam laços de vivência, de cumplicidade, muito menos de amizade. Não se vive com humildade e o espírito do lugar não é respeitado pela arrogância, pela ostentação de um poder aqui sem cabimento.
Ninguém é dono exclusivo dum lugar, dum modo de vida, dum passado. Mas esses inocentes que tentam reinventar paraísos que, é suposto, tenham perdido, antes deviam comprar terras e construir eles os seus lugares, as suas aldeias, e aí nada havia a opor.
São os vilões, mas principalmente os citadinos, que os demandam, invadem, mas não se integram nos lugares existentes, desvirtuam a arquitectura, diluem as suas especificidades, pulverizam e fazem evaporar o seu particular espírito convivencial.E quanto ao seu contributo para a actividade económica local: até o arroz e os jornais trazem na mala do carro. Quantos lêem o A.M.?