sexta-feira, 7 de março de 2008

Preparar uma decisão afastando o melindre

Se procuro escrever estas linhas em todas as edições deste Jornal é porque tenho disponibilidade para uma intervenção a diferentes níveis e a acho de algum modo útil. Não me é pedido ser pró ou contra, seria descabido, aliás só excepcionalmente as coisas são assim tão simples.
Temos muitas vezes a falsa ideia de que o poder nos exige que sejamos a favor ou contra todas as suas medidas. Dificilmente isso pode acontecer e quando aquele apoio é pedido há a procura de um totalitarismo absurdo, o que deve ser desde logo rejeitado. A nossa dignidade deve-nos impor isso.
Claro que devemos fazer um cômputo geral, uma avaliação mais ou menos detalhada e tirar uma conclusão. Mas esta será sempre subjectiva e devemos ainda assumir a sua relatividade. Deve ter em conta acima de tudo as opções em presença e não outras de que possivelmente gostaríamos mais. E além disso esta apreciação global só se justifica em certos momentos.
O que normalmente acontece é que este facto, a falta de alternativa viável, leva muita gente a uma atitude acrítica, a um militantismo anti-opinativo, vindo ainda dos tempos de Salazar. Esta ideia de que quem critica é prejudicial a quem faz é bizarra. Quem faz deve ter em conta as críticas no processo de decisão.
Ninguém se pode colocar a um nível superior, de se não querer submeter aos reparos dos outros. Principalmente quando se fazem coisas novas, quando se sai de um alinhamento mais previsível, imponha-se uma discussão aberta e que fossem facultados todos os dados que sustentam a decisão.
Quem pretende exercer o poder ou de qualquer maneira intervir deve-o fazer quando é possível e à posteriori se tiver que ser. O que se nos impõe é sermos claros na sustentação de um decisão diferente, de um outro rumo se for caso disso. Quem se sentir melindrado só tem que se preparar melhor para tomar melhores decisões.