sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Não te envergonhes, mesmo tendo receio, de seres alegre...de dia

A alegria não é sentimento que ande para aí espalhado como mercadoria sem valor. Todos já tivemos momentos em que queremos levar tudo à séria, deita-se a alegria para trás da costas, que a tristeza ajuda-nos a enfrentar melhor a vida, até a dar mais valor aos momentos de júbilo, de congratulação. Mas abusamos.
E não me venham falar de crise. Dizem que é a ela que devemos o facto de não fazermos meninos, de não brincarmos com os que vão escapando. Não fora a maldita crise e andaríamos por aí aos pinotes, plenos de euforia, até parece.
Mas os países desenvolvidos do Norte já há muito que sofrem dos mesmos males e, com tanto progresso e riqueza, não têm eles deixado de lhes bater à porta. E como nós temos por hábito baralhar tudo, até temos uma ideia que quem tudo baralha é porque é sério, seria bom analisar melhor esta questão.
Uma postura mais comedida, sem ser patética, seria possível se emprestássemos aos nossos actos um pouco mais de alegria, sentimento que contagia, desinibe e estimula. Que o digam aqueles que procuram a noite como mundo apropriado para viver, talvez porque se sentem envergonhados de serem alegres de dia. Para eles a crise até só existe de dia.
Há quem diga que ninguém consegue ser alegre de dia, que o ambiente de dia é demasiado negro, ao passo que o da noite é festivo, mesmo esfuziante. A noite não exige esforço para se ser alegre, não há muralhas, há confraternização, há tão só códigos de linguagem e conduta que todos entendem.O dia não é mais que uma série de sombras, de armadilhas, de sustos e arrepios. Nesta sociedade cinzenta só um louco anda com a cara sorridente de dia. E quando interpelado tem que dizer que é por ter visto um homem a morder um cão, porque é proibido ser alegre, assim só… alegre… como uma garça (leia-se passarinho).