sexta-feira, 27 de abril de 2007

Quem teima em deitar poeira sobre Abril?

A Primavera não influencia somente a vida vegetativa. Os seres revitalizam-se, os ânimos rejuvenescem. Depois do descanso do Inverno, encontram-se novos motivos para gostar da vida, novas forças para levar de vencida o imobilismo desgastante.
Em 1974, após o choque petrolífero, o isolamento internacional, a recepção pelo Papa dos líderes dos movimentos de libertação das colónias, os militares pensaram que era a altura de mudar. O regime não podia chegar ao Verão, estava moribundo e deram-lhe o golpe de misericórdia a 25 de Abril.
Tão longe porém estávamos nós de ter um acordo mínimo sobre um caminho a seguir, sobre que princípios civilizacionais adoptar. Demorou o seu tempo o período de indefinição. Os acontecimentos internacionais foram entretanto contribuindo para o apaziguar das divergências e foram solidificando os pontos de convergência.
Pode-se dizer que depois de um golpe que apanhou todos de surpresa nunca se chegaria a um qualquer acordo, que todos os que já estavam no terreno procuraram tirar daí vantagens.
Mas, colocadas na super-estrutura as coisas numa certa ordem, muitos passos foram dados e actualmente a convivência está estabelecida dentro de parâmetros aceitáveis.
Mesmo assim muita gente está insatisfeita, foca a sua ira sobre os corruptos, os malabaristas, os oportunistas, os gananciosos. Há efectivamente na sociedade uma zona enevoada que custa a ganhar transparência.
O Bloco Central é o maior culpado, mas não só. Tarda a que certos protagonistas tenham vergonha e o poder judicial tenha eficácia. Enquanto isto acontece, melhor será pôr uma tarja negra sobre o 25 de Abril.